domingo, 27 de setembro de 2015

FRAGMENTOS DE UMA REALIDADE ESQUECIDA

            A história registra muitos acontecimentos grotescos de nossa cidade, notadamente no campo político, com perseguição e até prisão de pessoas renomadas. Outras situações, por não envolverem pessoas de expressão, ficam restritas à memória daqueles que vivenciaram os fatos.

            Com o objetivo de chamar atenção para as conquistas alcançadas neste período que minha memória alcança, passo a oferecer, a partir desta narrativa, episódios esquecidos ou, por obvio, desconhecidos da maioria absoluta dos nossos habitantes.

            Por volta dos anos 50 era comum - até representava status - homens ricos terem uma concumbina, geralmente vivendo em casas nos bairros afastados dos centros onde mantinham suas atividades profissionais e/ou suas residências. Vale ressaltar que estas eram mulheres especiais que se destacavam entre as muitas vítimas de uma sociedade que geralmente, de maneira impositiva, davam-lhes como destino um prostíbulo.

            Com o fim de atender imposição de uma elite que não aceitava qualquer contato com estas, nem mesmo em locais públicos, as autoridades policiais resolveram estabelecer que elas só poderiam andar nas ruas até as oito horas da manhã, tempo suficiente para que fizessem suas "feiras".

            Como marco de afrouxamento dessas regras um delegado resolveu que algumas destas mulheres poderiam, eventualmente, andar nas ruas fora do horário estabelecido, em caso de necessidade urgente como para compra de remédios e outros fins devidamente justificados.

            O episódio que pretendo narrar tem início exatamente numa dessas ocasiões quando a protagonista foi surpreendida com a abordagem de policiais que a acusavam de estar transgredindo a lei.

            Na delegacia ela tomou conhecimento que tratava-se de ordem de um novo delegado que não tinha conhecimento do acordo tácito existente entre "elas" e o antigo titular da delegacia. Após interveniência de algumas pessoas influentes a mesma foi liberada.

            Esta discriminação, por incrível que possa parecer, se estende até os dias de  hoje e aos seus descendentes, embora de forma velada enquanto, graças a Deus, as novas gerações gozam de total liberdade chegando, às vezes, até a abusar desta dádiva divina. 

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