Nun trabalho belíssimo a Revista Veja recompôs a história da República, no ano de 1989 e que até hoje é importante fonte de conhecimento que nos ajuda a entender um pouco do que acontece até os dias atuais.
Pela sua importância, postaremos uma série de textos publicados à época. Clique em "Mais informações" e leia o primeiro texto que traz uma entrevista com Rui Barbosa.
O novo ministro da Fazenda explica por que aderiu à República e anuncia suas metas para a economia
Nomeação estranha mas, paradoxalmente, previsível. Estranha porque o tribuno baiano é o primeiro a admitir que só se tornou republicano poucos dias antes da proclamação. E mais esquisita ainda porque Rui poderia ter sido ministro no regime imperial. integrando o recém-deposto gabinete do visconde de Ouro Preto. Em junho, o conselheiro Manuel Pinto de Sousa Dantas, amigo do novo ministro da Fazenda desde os tempos de juventude na Bahia, escreveu a Rui Barbosa: "Indiquei teu nome, que o Ouro Preto recebeu alegremente e o imperador recebeu de braços abertos. Estás ministro, a não ser que finques pé em não querer". O jornalista fincou pé, e aí se vislumbra por que sua nomeação para o ministério republicano em previsível. Afinal, nos últimos meses, a pena de Rui Barbosa vinha vergastando o governo imperial com uma virulência de republicano exaltado. Tanto que no artigo que escrevia no dia 15, e não terminou, se alinhava sem hesitações junto aos oficiais do Exército e contra o governo a propósito da momentosa "questão militar". Privadamente, ele já avisara ao conselheiro Dantas: "Da República só disto uma linha". Casado há treze anos com Maria Augusta e pai de três meninas, Rui é um trabalhador incansável, um estudioso que conhece vários idiomas e está familiarizado com as mais recentes teorias econômicas e sociais européias. Já foi deputado, mas não é muito bom de voto: participou de seis eleições e perdeu quatro, inclusive nas últimas, em agosto passado. Apesar de baixinho (1,58 metro), Rui Barbosa impressiona quando ocupa uma tribuna -- tem rompantes que lembram uma águia. A seguir, o novo ministro da Fazenda explica por que se tornou republicano e preconiza a contenção de verbas para sanear as finanças da República.
VEJA - Quando, exatamente, o senhor deixou de ser monarquista para aderir à causa republicana?
Rui Barbosa - Fiz-me republicano nos últimos três ou quatro dias da monarquia, quando a sua situação me fazia portador da responsabilidade que eu, pela agitação na imprensa, havia assumido. Fui republicano para não correr de uma situação na qual havia tomado parte, pela energia com que, pelas colunas de um jornal, o Diário de Notícias, combatia um regime decaído.
Rui Barbosa - Fiz-me republicano nos últimos três ou quatro dias da monarquia, quando a sua situação me fazia portador da responsabilidade que eu, pela agitação na imprensa, havia assumido. Fui republicano para não correr de uma situação na qual havia tomado parte, pela energia com que, pelas colunas de um jornal, o Diário de Notícias, combatia um regime decaído.
VEJA - Essa adesão ao credo republicano às vésperas da proclamação não pode lhe valer a acusação de oportunismo?
Rui Barbosa - Não tenho a honra de pertencer aos republicanos históricos. Sou dos republicanos da hora, mas da hora em que houve perigo. E no perigo estava eu, com minha vida, com minha cabeça.
Rui Barbosa - Não tenho a honra de pertencer aos republicanos históricos. Sou dos republicanos da hora, mas da hora em que houve perigo. E no perigo estava eu, com minha vida, com minha cabeça.
VEJA - Antes de apoiar o movimento republicano, que tipo de monarquista o senhor era?
Rui Barbosa - Era o que na Inglaterra se chama de "oposição de Sua Majestade": uma oposição constitucional que, em matéria de reformas, não ultrapassava a raia traçada pela sanção do próprio imperador. Sinceramente monarquista era eu, a esse tempo. Bati-me contra a monarquia sem deixar de ser monarquista. Não por admitir preexcelências formais desse ao outro sistema de governo - visível preconceito apenas digno de fanáticos, ignorantes ou tolos -, mas porque a monarquia parlamentar, lealmente observada, encerra em si todas as virtudes preconizadas, sem o grande mal da República, o seu mal inevitável.
Rui Barbosa - Era o que na Inglaterra se chama de "oposição de Sua Majestade": uma oposição constitucional que, em matéria de reformas, não ultrapassava a raia traçada pela sanção do próprio imperador. Sinceramente monarquista era eu, a esse tempo. Bati-me contra a monarquia sem deixar de ser monarquista. Não por admitir preexcelências formais desse ao outro sistema de governo - visível preconceito apenas digno de fanáticos, ignorantes ou tolos -, mas porque a monarquia parlamentar, lealmente observada, encerra em si todas as virtudes preconizadas, sem o grande mal da República, o seu mal inevitável.
VEJA - O que há de inevitavelmente ruim na forma republicana de governo?
Rui Barbosa - O mal grandíssimo e irremediável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas o primeiro lugar do Estado e, desta sorte, o condenar a ser ocupado, em regra, pela mediocridade.
Rui Barbosa - O mal grandíssimo e irremediável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas o primeiro lugar do Estado e, desta sorte, o condenar a ser ocupado, em regra, pela mediocridade.
VEJA - Mas no sistema monárquico também não há o risco de um medíocre ocupar a chefia do Estado?
Rui Barbosa - É verdade que também na realeza, graças ao privilégio da hereditariedade, a coroa vai parar às vezes em cabeças acanhadas, ou taradas. Mas como nela é o Parlamento quem governa, nessa combinação inteligente a incapacidade pessoal dos reis se acha neutralizada pela sua impotência constitucional. Ao passo que nas repúblicas de molde presidencial os reis temporários, designados a capricho das oligarquias e máquinas eleitorais, obram sem corretivo, com um poder irresponsável e, por conseqüência, ilimitado, imoral, absoluto. Eis aí o que minha consciência de monarquista parlamentar energicamente repugnava.
Rui Barbosa - É verdade que também na realeza, graças ao privilégio da hereditariedade, a coroa vai parar às vezes em cabeças acanhadas, ou taradas. Mas como nela é o Parlamento quem governa, nessa combinação inteligente a incapacidade pessoal dos reis se acha neutralizada pela sua impotência constitucional. Ao passo que nas repúblicas de molde presidencial os reis temporários, designados a capricho das oligarquias e máquinas eleitorais, obram sem corretivo, com um poder irresponsável e, por conseqüência, ilimitado, imoral, absoluto. Eis aí o que minha consciência de monarquista parlamentar energicamente repugnava.
VEJA - Que tipo de mudanças na monarquia brasileira o senhor defendia?
Rui Barbosa - Eu queria republicanizar a monarquia, para conservá-Ia. Isto é, requeria que ela entrasse nos seus moldes constitucionais, deixando com sinceridade o governo ao povo e ao Parlamento. Não há monarquia compatível com a liberdade se não for essencialmente republicana. Nem é senão se fazendo cada vez mais republicano que o império britânico, a mais sólida construção humana de toda a História, tem assentado sua duração e grandeza. Preguei sempre aos monarquistas as minhas idéias em nome dos interesses da monarquia.
Rui Barbosa - Eu queria republicanizar a monarquia, para conservá-Ia. Isto é, requeria que ela entrasse nos seus moldes constitucionais, deixando com sinceridade o governo ao povo e ao Parlamento. Não há monarquia compatível com a liberdade se não for essencialmente republicana. Nem é senão se fazendo cada vez mais republicano que o império britânico, a mais sólida construção humana de toda a História, tem assentado sua duração e grandeza. Preguei sempre aos monarquistas as minhas idéias em nome dos interesses da monarquia.
VEJA - E como a monarquia reagiu às suas propostas de mudança?
Rui Barbosa - Eis aí como, trabalhando pela salubridade, pela cura e pela prolongação dos dias do outro regime, me vi denunciar de seu arquiinimigo, de seu jurado subversor, do mais entranhado, maligno e perigoso dos republicanos. Não promovia a República, não a desejava. Se combatia a monarquia, a culpa não era minha, e sim dela, de sua aversão a reformas necessárias.
Rui Barbosa - Eis aí como, trabalhando pela salubridade, pela cura e pela prolongação dos dias do outro regime, me vi denunciar de seu arquiinimigo, de seu jurado subversor, do mais entranhado, maligno e perigoso dos republicanos. Não promovia a República, não a desejava. Se combatia a monarquia, a culpa não era minha, e sim dela, de sua aversão a reformas necessárias.
VEJA - O senhor obteve algum ganho sendo monarquista? Mantinha boas relações pessoais com o ex-imperador D. Pedro lI, a princesa Isabel e com o conde D'Eu?
Rui Barbosa - Nunca me importei da boa sombra imperial. Da família reinante nunca me acerquei. Não tive jamais um momento de contato com a princesa ou seu consorte. Nem uma só vez compareci, em qualquer tempo, a solenidades, cerimônias ou recepções no Paço imperial. Ainda quando contemplado nas grandes comissões parlamentares, que o protocolo da Câmara dos Deputados incumbia de levar ao imperador certos atos daquela Casa, não acompanhava os meus colegas.
Rui Barbosa - Nunca me importei da boa sombra imperial. Da família reinante nunca me acerquei. Não tive jamais um momento de contato com a princesa ou seu consorte. Nem uma só vez compareci, em qualquer tempo, a solenidades, cerimônias ou recepções no Paço imperial. Ainda quando contemplado nas grandes comissões parlamentares, que o protocolo da Câmara dos Deputados incumbia de levar ao imperador certos atos daquela Casa, não acompanhava os meus colegas.
VEJA - Mas o pai do senhor recebeu uma condecoração de D. Pedro II, não é verdade?
Rui Barbosa - O doutor João José Barbosa d'Oliveira não recusou uma condecoração imperial, que aliás estava fadada a envelhecer-se, desusada, na gaveta. Mas não trocava essa distinção pela de, quando falava a Sua Majestade na visita imperial à Bahia, em nome de uma comissão de operários, lhe ter chamado a atenção para "os ventos que sopravam dos quatro pontos do céu". Em tempos de aulicismo, era ato de intrepidez essa nota democrática.
Rui Barbosa - O doutor João José Barbosa d'Oliveira não recusou uma condecoração imperial, que aliás estava fadada a envelhecer-se, desusada, na gaveta. Mas não trocava essa distinção pela de, quando falava a Sua Majestade na visita imperial à Bahia, em nome de uma comissão de operários, lhe ter chamado a atenção para "os ventos que sopravam dos quatro pontos do céu". Em tempos de aulicismo, era ato de intrepidez essa nota democrática.
VEJA - Ele era monarquista também?
Rui Barbosa - Monarquista de convicções arraigadas era meu pai e, juntamente, liberal irredutível que bebera nas águas do constitucionalismo inglês. Mas nada era mais antipático ao seu austero temperamento e alta inteligência que os reacionários do monarquismo atrasado, ou os hipócritas, sicofantas e cortesãos do imperialismo palaciano.
Rui Barbosa - Monarquista de convicções arraigadas era meu pai e, juntamente, liberal irredutível que bebera nas águas do constitucionalismo inglês. Mas nada era mais antipático ao seu austero temperamento e alta inteligência que os reacionários do monarquismo atrasado, ou os hipócritas, sicofantas e cortesãos do imperialismo palaciano.
VEJA - Qual foi a atitude dominante de D. Pedro II durante o seu longo reinado?
Rui Barbosa - Graças a uma inconcebível flexibilidade de caráter, D. Pedro II teve artes de ser um soberano absoluto, sem cessar de acomodar o seu temperamento a todos os molhos que as várias situações políticas lhe pudessem ir reclamando. Mercê do seu espírito contemporizador e da sua prodigiosa dissimulação, conservou, na mão de ferro enluvada em veludo, um poder sem contrapeso nem limite. Esse poder pessoal e invasor chegou a destruir, em volta de si, todos os partidos, todos os homens, todos os caracteres, todas as vontades, todos os sistemas ou programas políticos, fazendo reinar acima de tudo e de todos a força superior do monarca. O resultado desse jugo intolerável foi demonstrar-se praticamente a influência desastrosa do sistema monárquico. É assim que, pouco e pouco, o imperador acabou por desesperar a consciência pública.
Rui Barbosa - Graças a uma inconcebível flexibilidade de caráter, D. Pedro II teve artes de ser um soberano absoluto, sem cessar de acomodar o seu temperamento a todos os molhos que as várias situações políticas lhe pudessem ir reclamando. Mercê do seu espírito contemporizador e da sua prodigiosa dissimulação, conservou, na mão de ferro enluvada em veludo, um poder sem contrapeso nem limite. Esse poder pessoal e invasor chegou a destruir, em volta de si, todos os partidos, todos os homens, todos os caracteres, todas as vontades, todos os sistemas ou programas políticos, fazendo reinar acima de tudo e de todos a força superior do monarca. O resultado desse jugo intolerável foi demonstrar-se praticamente a influência desastrosa do sistema monárquico. É assim que, pouco e pouco, o imperador acabou por desesperar a consciência pública.
VEJA - Afonso Celso de Assis Figueiredo, o visconde de Ouro Preto, deposto do cargo de presidente do Conselho de Ministros, acha que se lhe tivessem deixado implementar reformas, a República não triunfaria. O senhor concorda?
Rui Barbosa - Ora, foi justamente da oposição às suas reformas. feita no Diário de Notícias e no Paiz, que se produziu a revolução, gerada pelas aspirações federais que o ministério Ouro Preto pretendia esmagar.
Rui Barbosa - Ora, foi justamente da oposição às suas reformas. feita no Diário de Notícias e no Paiz, que se produziu a revolução, gerada pelas aspirações federais que o ministério Ouro Preto pretendia esmagar.
VEJA - Dois meses e meio antes da proclamação, houve eleições, e o Partido Liberal do visconde de Ouro Preto obteve uma grande vitória: elegeu 130 deputados, contra sete conservadores e dois republicanos. Isso não significa que o gabinete dele tinha apoio?
Rui Barbosa - Ouro Preto acabava de eleger uma Câmara unânime, a poder de uma reação e corrupção inauditas, num eleitorado altamente censitário. Todos os gabinetes que presidiram a eleições derramando sangue, espalhando vexames, liberalizando corrupção, para abafar a resistência oposicionada, foram dentro em pouco tempo braviamente acometidos e tragados pela insurreição das próprias criaturas. O nobre visconde de Ouro Preto procriou uma fera da mesma espécie.
Rui Barbosa - Ouro Preto acabava de eleger uma Câmara unânime, a poder de uma reação e corrupção inauditas, num eleitorado altamente censitário. Todos os gabinetes que presidiram a eleições derramando sangue, espalhando vexames, liberalizando corrupção, para abafar a resistência oposicionada, foram dentro em pouco tempo braviamente acometidos e tragados pela insurreição das próprias criaturas. O nobre visconde de Ouro Preto procriou uma fera da mesma espécie.
VEJA - Era então ilusória a base política de que Ouro Preto dispunha?
Rui Barbosa - Câmaras que nascem livremente da opinião nacional são castelos inexpugnáveis para os governos que nelas se apóiam. Câmaras criadas artificialmente pelos ministros, à custa da moeda múltipla dos favores do poder e das pressões que ele exerce, são conjuntos de dificuldades e perigos. Nelas, os governos não podem aventurar o passo, senão apalpando o terreno solapado pelas dissidências do interesse particular, pelas conspirações do descontentamento, pelos despeitos da rivalidade, pelos cálculos da ambição traiçoeira.
Rui Barbosa - Câmaras que nascem livremente da opinião nacional são castelos inexpugnáveis para os governos que nelas se apóiam. Câmaras criadas artificialmente pelos ministros, à custa da moeda múltipla dos favores do poder e das pressões que ele exerce, são conjuntos de dificuldades e perigos. Nelas, os governos não podem aventurar o passo, senão apalpando o terreno solapado pelas dissidências do interesse particular, pelas conspirações do descontentamento, pelos despeitos da rivalidade, pelos cálculos da ambição traiçoeira.
VEJA - Que espécie de monarquia o ministério Ouro Preto criou?
Rui Barbosa - A monarquia cabalista, a monarquia banqueira, a monarquia dos nababos de bolsa, a monarquia guarda nacional, a monarquia antifederalista, a monarquia perseguidora das forças militares: eis a criação monstruosa, inexprimível, do ministério.
Rui Barbosa - A monarquia cabalista, a monarquia banqueira, a monarquia dos nababos de bolsa, a monarquia guarda nacional, a monarquia antifederalista, a monarquia perseguidora das forças militares: eis a criação monstruosa, inexprimível, do ministério.
VEJA - Se o imperador tiver apoio das realezas européias, o senhor considera possível a restauração monárquica?
Rui Barbosa - A idéia de restauração é sebastianismo ou ignorância de especuladores ou tolos. Ouro Preto é abominado no Brasil. D. Pedro está sendo explorado pelos antigos diplomatas imperiais. As pretensões à ingerência das monarquias européias no Brasil são simplesmente ridículas. A República brasileira terá por si a aliança ofensiva e defensiva da América inteira.
Rui Barbosa - A idéia de restauração é sebastianismo ou ignorância de especuladores ou tolos. Ouro Preto é abominado no Brasil. D. Pedro está sendo explorado pelos antigos diplomatas imperiais. As pretensões à ingerência das monarquias européias no Brasil são simplesmente ridículas. A República brasileira terá por si a aliança ofensiva e defensiva da América inteira.
VEJA - O senhor vem de ser nomeado ministro da Fazenda do governo republicano. Como está a situação econômica do Brasil?
Rui Barbosa - A República não encontrou senão dificuldades, compromissos, urgências imperiosas, contra os quais não faltam meios para reagir vitoriosamente, mas que tornam extremamente árduo este período de transição.
Rui Barbosa - A República não encontrou senão dificuldades, compromissos, urgências imperiosas, contra os quais não faltam meios para reagir vitoriosamente, mas que tornam extremamente árduo este período de transição.
VEJA - Qual o tamanho da dívida que a nova República herdou do velho império?
Rui Barbosa - Avantaja-se a 1 milhão de contos de réis a soma do débito nacional que nos deixou em herança a monarquia. Essa enorme adição orça pela receita do Estado no decurso de quase sete anos, computando-se em 150 000 contos de réis a nossa renda anual. Seria preciso, pois, superpor sete orçamentos para vencer a altura desses compromissos.
Rui Barbosa - Avantaja-se a 1 milhão de contos de réis a soma do débito nacional que nos deixou em herança a monarquia. Essa enorme adição orça pela receita do Estado no decurso de quase sete anos, computando-se em 150 000 contos de réis a nossa renda anual. Seria preciso, pois, superpor sete orçamentos para vencer a altura desses compromissos.
VEJA - Qual receita o senhor oferece para resolver esse problema da dívida? Enxugar a máquina estatal?
Rui Barbosa - Cortemos energicamente nas despesas. Eliminemos as repartições inúteis. Estreitemos o âmbito ao funcionalismo, reduzindo o pessoal e remunerando-lhe melhor o serviço. Moralizemos a administração, norteando escrupulosamente o provimento de cargos do Estado pela competência, pelo merecimento, pela capacidade. Cinjamo-nos, na criação de serviços novos, à necessidade absoluta. Fujamos do filhotismo republicano, transformação imoral e funesta do antigo nepotismo monárquico. Se procedermos assim, teremos meio caminho vencido para a reforma das nossas finanças, a reconstituição de nosso crédito e a fecundação das nossas forças vitais.
Rui Barbosa - Cortemos energicamente nas despesas. Eliminemos as repartições inúteis. Estreitemos o âmbito ao funcionalismo, reduzindo o pessoal e remunerando-lhe melhor o serviço. Moralizemos a administração, norteando escrupulosamente o provimento de cargos do Estado pela competência, pelo merecimento, pela capacidade. Cinjamo-nos, na criação de serviços novos, à necessidade absoluta. Fujamos do filhotismo republicano, transformação imoral e funesta do antigo nepotismo monárquico. Se procedermos assim, teremos meio caminho vencido para a reforma das nossas finanças, a reconstituição de nosso crédito e a fecundação das nossas forças vitais.
VEJA - Qual será o papel da iniciativa privada nesse início da era republicana?
Rui Barbosa - Nunca necessitamos tanto das grandes empresas. O país lucra com a formação das grandes fortunas, como com o derramamento da riqueza pelas classes populares. São dois modos paralelos do desenvolvimento nacional que convém animar simultaneamente. Somos uma nação sem proletariado, socialmente democratizada, onde as mais altas vitórias do trabalho e as mais cobiçáveis situações industriais são acessíveis, sem os embaraços triviais entre os povos antigos, à inteligência, ao tino, à perseverança, ao caráter.
Rui Barbosa - Nunca necessitamos tanto das grandes empresas. O país lucra com a formação das grandes fortunas, como com o derramamento da riqueza pelas classes populares. São dois modos paralelos do desenvolvimento nacional que convém animar simultaneamente. Somos uma nação sem proletariado, socialmente democratizada, onde as mais altas vitórias do trabalho e as mais cobiçáveis situações industriais são acessíveis, sem os embaraços triviais entre os povos antigos, à inteligência, ao tino, à perseverança, ao caráter.
VEJA - O Estado republicano irá auxiliar a iniciativa privada na atual fase?
Rui Barbosa - Ao Estado, nessa fase social, cabe sem dúvida um grande papel de atividade criadora, acudindo a todos os pontos onde o princípio individual reclame a cooperação suplementar das forças coletivas. Se nos soubermos inspirar nestes rudimentos de senso comum, aplicados às necessidades do momento, não haverá motivo de assustarmo-nos ante a soma de embaraços que o regime anterior nos legou. Contra esses embaraços temos, de mais a mais, recursos incomensuravelmente superiores da fortuna pública e particular do país.
Rui Barbosa - Ao Estado, nessa fase social, cabe sem dúvida um grande papel de atividade criadora, acudindo a todos os pontos onde o princípio individual reclame a cooperação suplementar das forças coletivas. Se nos soubermos inspirar nestes rudimentos de senso comum, aplicados às necessidades do momento, não haverá motivo de assustarmo-nos ante a soma de embaraços que o regime anterior nos legou. Contra esses embaraços temos, de mais a mais, recursos incomensuravelmente superiores da fortuna pública e particular do país.
VEJA - A economia do país, portanto, vai bastante mal, mas não é totalmente catastrófica?
Rui Barbosa - Não somos uma nação em estado de indigência. Temos sobejos elementos de confiança quanto ao futuro. Carecemos, porém, de boa administração, firme e íntegra, circunspecta e audaz.
Rui Barbosa - Não somos uma nação em estado de indigência. Temos sobejos elementos de confiança quanto ao futuro. Carecemos, porém, de boa administração, firme e íntegra, circunspecta e audaz.
VEJA - Ao proclamar a República, o presidente Deodoro da Fonseca estava doente. Uma eventual piora no estado de saúde do marechal não colocaria o novo regime numa situação de fragilidade?
Rui Barbosa - A revolução é aceita pelo país inteiro e não depende da contingência da vida de um homem, por muito preciosa que seja. No Exército mesmo a revolução conta com outros chefes de altíssimo prestígio e não menos dedicados a ela.
Rui Barbosa - A revolução é aceita pelo país inteiro e não depende da contingência da vida de um homem, por muito preciosa que seja. No Exército mesmo a revolução conta com outros chefes de altíssimo prestígio e não menos dedicados a ela.
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