Jovem  estudante de jornalismo, não se iluda: a profissão que abraçará, à  diferença de todas as outras neste país em processo de euforia  econômica, oferece muito poucos bons empregos – entenda-se empregos em  empresas que ofereçam perspectivas de ascensão profissional e econômica. 
E  os poucos empregos promissores que existem, nem são tão bons porque  obrigarão o jornalista neófito a violar os princípios éticos que lhe  forem ensinados na universidade e a própria dignidade, tendo que curvar a  espinha a cada edição do veículo em que for trabalhar. E em qualquer  vertente do jornalismo da grande imprensa. 
 
Essa situação se deve à  concentração da propriedade de meios de comunicação, à propriedade  cruzada desses meios e dos critérios políticos para entrega de  concessões públicas de rádio e tevê a algumas poucas famílias que  controlam toda a grande mídia brasileira. 
 
Acima de todas essas  famílias midiáticas, míseras quatro controlam o “centro nervoso” da  comunicação no Brasil: as famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita.  Depois delas, mais umas três ou quatro formam tentáculos dos quais se  ramificarão mais algumas dezenas de empresas de médio e pequeno porte  que reproduzirão o que veicular o tronco dessa árvore cartelizada da  comunicação. 
 
 A oportunidade de conseguir algum dos poucos  empregos nesses veículos só existirá na medida em que você, caro  estudante de jornalismo, estiver disposto a seguir um manual que vai  mudando de personagens através dos anos, mas que mantém sempre os mesmos  “princípios”. 
 
Esse manual se baseia, acima de tudo, em crenças e  conveniências político-ideológicas e econômicas das famílias  midiáticas. E como essas empresas se amparam em benesses que conseguiram  institucionalizar no Brasil por terem permanecido “amigas” do Estado  por décadas incontáveis, tudo passa pela postura político-ideológica do  candidato a emprego. 
 
 Se você, estudante de jornalismo,  desviar-se dos ditames dessa postura, estará condenado a se tornar  assessor de imprensa de empresas, políticos ou celebridades, ou a tentar  a imprensa dita “alternativa”, que mal consegue sobreviver justamente  porque os recursos públicos são uma espécie de monopólio das famílias  supracitadas. 
 
A seguir, leia e entenda esse manual de corrupção e submissão da alma. E decida se é o que quer para você. 
 
MANUAL DA IMPRENSA GOLPISTA 
 
1 – Ser antipetista, mas sempre se dizendo um petista “arrependido devido à corrupção do governo Lula”. 
 
2  – Afirmar que o êxito econômico e social do Brasil durante o governo  Lula é mérito do governo FHC, ignorando todas as catástrofes sociais e  econômicas que ocorreram no governo tucano. 
 
3 – Afirmar que a  ditadura militar de 1964 foi implantada para “impedir uma ditadura  comunista no Brasil”, mas sem jamais perguntar onde estão as provas  disso. 
 
4 – Afirmar que a Venezuela é uma ditadura mesmo a  despeito de que vige o voto livre no país e de que nenhuma das suas  muitas eleições sofreu qualquer questionamento sério, tendo sido todas  referendadas por observadores internacionais. 
 
5 – Condenar  previamente todos os petistas envolvidos no escândalo do mensalão – José  Dirceu à frente – com base apenas no fato de que estão sendo julgados. E  afirmar, peremptoriamente, que Lula foi o mentor de tudo. 
 
6 –  Dizer que todas as absolvições de petistas e aliados em processos  judiciais decorrentes de escândalos inflados ou inventados pela mídia  são produto de farsa jurídica, enquanto usa as absolvições jurídicas de  tucanos para denunciar que foram vítimas de armações políticas. 
 
7  – Jamais investigar qualquer denúncia contra o governo paulista ou  contra qualquer tucano, limitando-se a fazer uma matéria meio antipática  a cada seis meses ou um ano só para disfarçar, enquanto produz ataques  diários a petistas e aliados. 
 
8 – Afirmar que Lula foi culpado  pelos desastres dos aviões da TAM e da Gol apesar de que as  investigações e perícias mostraram que foram culpa de pilotos e do  equipamento. 
 
9 – Afirmar que Antonio Palocci violou o sigilo do  caseiro Francenildo apesar de o atual ministro-chefe da Casa Civil ter  sido absolvido pela Justiça. 
 
10 – Ficar do lado da Itália e  contra o Brasil na questão da extradição do ativista italiano Cesare  Battisti, assumindo cada argumento italiano in limine e criticando  sempre os motivos do governo brasileiro, ignorando qualquer argumento em  contrário. 
 
11 – Ficar sempre a favor de golpes ou tentativas de  golpes de Estado contra governos de esquerda, como no caso de Honduras,  Venezuela ou Bolívia, e ficar no mínimo isento em casos assim quando o  governo for de direita. 
 
12 – Sempre lembrar com muito, mas muito  maior ênfase o que persiste de ruim no Brasil do que o que melhorou,  atribuindo todos os problemas históricos do país ao governo Lula,  acusando-o por não resolvê-los de uma vez e desconsiderando o que fez  para diminui-los como nenhum outro governo. 
 
13 – Sempre puxar o  saco de FHC apesar de ele ser rejeitado por quase 80% da opinião  pública, segundo as pesquisas sobre sua popularidade. 
 
14 – Sempre tratar Serra como vítima do PT, apesar de ser talvez o político mais beligerante do país ao lado de Ciro Gomes. 
 
15 – Sempre afirmar que o PT fez, sim, dossiês contra o PSDB, apesar de jamais ter surgido uma única prova cabal dessa hipótese. 
 
16  – Sempre dizer que o estilo discreto de Dilma agrada mais a todos do  que a “verborragia” de Lula, mas sempre sem dizer de onde tirou a  informação. 
 
17 – Garantir que Serra não foi atingido por uma  bolinha de papel na campanha eleitoral passada, mas por um rolo de fita  crepe pesando 1 quilo, ignorando as perícias de universidades dizendo o  contrário. 
 
18 – Bloquear, em colunas de cartas de leitores,  quase todas as manifestações favoráveis ao PT ou a governos do “eixo do  mal” de outros países, ou seja, de Cuba, Venezuela, Irã e Bolívia. E, ao  mesmo tempo, brandindo sempre intenções de petistas de promoverem  “censura”. 
 
19 – Ser visceralmente contra cotas para negros nas  universidades, afirmando sempre que formados através dessas cotas serão  profissionais inferiores, apesar dos estudos das universidades que  mostram que cotistas se saem igual ou melhor do que os não-cotistas. 
 
20  – Tratar o MST como uma organização criminosa violenta apesar de os  sem-terra serem vítimas de atrocidades homicidas praticadas pelos  latifundiários, que dificilmente sofrem violência física na disputa pela  terra. 
 
21 – Entender, aceitar e defender a premissa de que  jornalista que quer ganhar dinheiro e ser famoso hoje no Brasil só pode  ter uma opinião: a do patrão. 
 
 
Deve faltar muita coisa nesse  “manual” de antijornalismo da Imprensa golpista. Quem se lembrar de algo  que não tenha sido mencionado pode complementar a lista, que irá sendo  aumentada conforme as sugestões não-repetidas forem chegando. 
 
 
** Reprodução de artigo publicado no Blog da Cidadania (www.eduardoguimaraes.com.br). 
 
(*) Eduardo Guimarães é autor do Blog da Cidadania.  | 
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