ESCRITO POR EDUARDO MACKENZIE |
23 OUTUBRO 2013
NOTÍCIAS FALTANTES - FORO DE SÃO PAULO
NOTÍCIAS FALTANTES - FORO DE SÃO PAULO
Em Havana, as FARC não negociam
pela paz na Colômbia, mas sim pelo plano de dominação continental do Foro de
São Paulo.
As FARC nunca foram um projeto
insurrecional anticapitalista em só um país. Essa organização era e é um elo de
uma corrente.
O presidente Juan Manuel Santos lançou anteontem em Neiva um novo ataque verbal, bastante violento, contra a oposição. Acusou-a do que vem acusando desde há mais de um ano quando começaram os contatos visíveis com as FARC em Cuba. “Os inimigos do processo estão dizendo mentiras sobre o que se está discutindo em Havana”, lançou o mandatário ante um auditório que esperava outra coisa dele, em resposta aos problemas urgentes do estado, com o colapso da justiça pela falta de novos juízes e tribunais, como a lentidão das obras públicas prometidas por ele (os trajetos Neiva-Girardot e Neiva-Mocoa-Santana) e o pagamento de um subsídio prometido aos cafeicultores.
Em vez de tratar dessa temática,
Santos embarcou em uma diatribe incendiária ao dizer, segundo Caracol Radio,
que o ex-presidente Álvaro Uribe “está se opondo a tudo, à sua re-eleição [a de
Santos] e ao processo de paz”. Segundo Santos, os colombianos também culpados.
Disse: “Os colombianos estão se deixando encher a cabeça de baratas e (...) por
isso há mais incrédulos nos país do que no estrangeiro sobre a paz que se está
negociando”. O chefe de Estado arrematou assim: “Eu estou negociando com a
guerrilha, não com Uribe”.
Essas alegações insinuam algo que
é ao mesmo tempo certo e falso. É certo que os colombianos - e por muito boas
razões - já não acreditamos no chamado “processo de paz”. As pesquisas dizem:
78% está contra a participação dos chefes das FARC nas eleições. 80% está
contra a não-entrega das armas destas e só a pretendida “deixação”. 80% está contra
a entrega das zonas de reserva camponesa às FARC, 87% está contra o
não-pagamento de um só dia de cárcere pelos criminosos das FARC, 89% está
contra as FARC terem uma representação parlamentar a dedo, quer dizer, sem
passar pelo voto dos cidadãos.
Embora Santos esteja muito
aborrecido com a opinião, deveria admitir a verdade: as FARC e ele mesmo
fracassaram em nos fazer crer aos colombianos que essas aberrações, essa
capitulação em regra do Estado e da sociedade ante as FARC, era o melhor para o
país. Por outro lado, não é exato que “no estrangeiro” estejam muito felizes em
ver as FARC convertidas em alegres borregos que nunca cometeram crimes de
guerra nem crimes contra a humanidade. Pensemos no que disse a respeito, com
grande autoridade, a promotora da Corte Penal Internacional, de Haya.
O outro ponto, ainda mais
importante, é este: com quem Santos está negociando? Se ele acredita que está
negociando com uma guerrilha, o presidente se equivoca.
As negociações em Havana, em seu
estado atual, não são entre o governo colombiano e uma guerrilha. Nessas
negociações as FARC estão negociando não com o Estado colombiano em seu
conjunto, senão com uma fração do Estado colombiano que insiste nesse capricho,
contra o desespero, embora seja silencioso, de outra parte do mesmo Estado. Por
outro lado, as FARC estão batalhando, lá em Havana, não para esmagar, em
particular e de maneira isolada, a democracia colombiana, senão que estão
batalhando para fazê-lo mas em nome dos interesses globais do castro-comunismo
no continente americano e no mundo.
Os que acreditam que as FARC são
o “secretariado” de Timochenko e os bandos errantes que subsistem sob seu
comando, se equivocam. As FARC são muito mais do que isso: são um animal muito
mais letal, imprevisível e tentacular do que alguns crêem. As FARC nunca foram
um projeto insurrecional anticapitalista em só um país. Essa organização era e
é um elo de uma corrente. Era e é um instrumento subversivo que depende de
alguns poderes estrangeiros com ambições continentais.
Lembremos um detalhe recente que
deixa a descoberto esse fenômeno: quando as Forças Militares e de Polícia da
Colômbia deram baixa em Raúl Reyes, o chefe de fato das FARC nesse momento, em
seu acampamento em território equatoriano em 1º de março de 2008, três países
romperam imediatamente relações diplomáticas com a Colômbia: Equador, Venezuela
e Nicarágua. Esses governos inflaram o incidente, que era suscetível, em
condições normais, de ser arranjado pela via diplomática, e o transformaram em casus
belli: a Venezuela enviou ruidosamente tropas à fronteira com a Colômbia. O
Equador fez outro tanto, com menos ruído. A Nicarágua redobrou suas intrigas
para tirar a Colômbia do Mar do Caribe. Por que? Porque entre as FARC e esses
regimes havia e há uma aliança político-militar, não só uma simpatia
ideológica.
É à luz de fatos como esse, que
alguns parecem ter esquecido, que se devem analisar as pretendidas negociações
de paz com Havana. Santos imagina que está negociando com uma guerrilha? Está
negociando, na realidade, com uma narcoguerrilha e com entramados de poderes e
de ambições internacionais, quer dizer, com um bloco totalmente
anti-colombiano. Eu creio que Santos sabe disso tudo. Por que ele não diz aos
colombianos?
Quem pode acreditar que dessa
aventura em Havana sairão umas FARC sem narcotráfico e dispostas a respeitar, e
inclusive dispostas a “ampliar” como elas prometem, a democracia, a soberania,
as liberdades, a separação de poderes, a liberdade de imprensa e a economia de
mercado na Colômbia?
O que as FARC buscam em Havana é
abolir a Colômbia que hoje conhecemos e amamos. Se os colombianos são
“incrédulos”, como diz Santos, é porque sabem disso, pois têm ouvido o que as
FARC dizem desde Havana, enquanto vêem um governo mudo e complexado ante
vociferações e ameaças dos chefes das FARC em Cuba. E porque vêem e sofrem na
própria carne os atos de terrorismo, infames e diários, contra civis,
militares, policiais e contra a infra-estrutura do país, estimulados,
precisamente, por essas “negociações de paz”.
Não, o problema não é a “lentidão
dos diálogos” em Havana, como estima o presidente Santos. Tampouco é que as
negociações estejam “obstruídas”, como acredita saber a agência Reuters. É
porque essas negociações são impossíveis, pois buscam algo inadmissível: chegar
a uma situação de paz (relativa) em detrimento da democracia. A uma paz como a
que existe em Cuba, ou na Venezuela, ou na Nicarágua. Porém, não uma paz em um
contexto de liberdades reais. Quer dizer, a saída que as FARC preconizam não
conduziria senão a um só cenário: à verdadeira guerra civil na Colômbia. Não há
no continente uma entidade mais militarista que as FARC.
Os diálogos em Havana são um
perigo para o país. Por isso as FARC e seus acólitos, Piedad Córdoba, Iván
Cepeda e outros, depois de fazer a pantomima de rechaçar os presentes de
Santos, como o “marco jurídico para a paz” e o referendo, entre outros,
presentes que eles avaliam, na realidade, como trampolins para alcançar seus
objetivos, não têm nestes dias senão um discurso: as negociações devem
continuar, é a oportunidade de chegar a uma “saída política”(a paz sem
democracia), há que negociar também com o ELN, etc.
Por que essa insistência? Porque
as FARC e seus aliados, e a galáxia internacional que gira em torno da ditadura
cubana, do Foro de São Paulo, onde as FARC e o ELN têm postos fixos desde 1990,
vêem que a aventura em Havana entre Santos e Timochenko abre uma brecha, a
única, para desbaratar o sistema político colombiano desde dentro e poder
arrastar um país-chave do continente à órbita dos cubanos.
Santos sabe perfeitamente disto
e, entretanto, diz que está “negociando a paz” para a Colômbia.
Tradução: Graça Salgueiro
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