segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PÉROLAS DO ESTÊNIO


ONDE SE ENCONTRAM OS VALORES MORAIS DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA?


Os países lutam para ter ou manter o controle de matérias primas, fontes de 



energia, terras, bacias fluviais, passagens marítimas e outros recursos ambientais básicos. Nessa luta, surgem conflitos que tendem a aumentar à medida que os recursos escasseiam e aumenta a competição por eles. Estamos na iminência de desastres ecológicos de consequências imprevisíveis, em face da rota de colisão do homem com a Natureza. Nos EUA, os furacões vão estremecendo as estruturas da sociedade americana; no Japão, tsunamis e terremotos desencadearam o pavor no povo nipônico; no Chile, o vulcão cuspiu sua força incandescente; no Rio de Janeiro e no Nordeste brasileiro, as tempestades destruíram milhares de vidas e bens.
Na época de Kardec existia cerca de 1,5 bilhão de habitantes na Terra e estima-se que atingiremos, pelo menos, 11 bilhões daqui a poucas dezenas de anos. Daqui a três anos haverá cerca de 600 milhões de bocas a mais para se alimentar. A fome já castiga mais de 1 bilhão de pessoas. Para os Espíritos, “a Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele a emprega no supérfluo o que poderia ser empregado no necessário”.(1) A questão é que, em uma sociedade consumista, poucos se contentam com o necessário, por isso não há distinção entre consumismo e materialismo. Na questão 799 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga: “de que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?”. A resposta é categórica: “Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade (...)”.(2)
Neste mundo contraditório, temos o cinismo de divulgar a paz produzindo as ogivas de guerra; ansiamos resolver os enigmas sociais intensificando a edificação das penitenciárias, bordeis e motéis. Cerca de 100 milhões de pessoas passaram à condição de pobreza extrema devido à recessão mundial resultante da crise financeira internacional de 2009. A cada cinco segundos morre uma criança na Terra em consequência da desnutrição. Segundo dados do UNICEF (3), 55% das mortes de crianças no mundo estão associadas à falta de comida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima existirem 100 milhões de crianças vivendo nas ruas do mundo subdesenvolvido ou em desenvolvimento, das quais mais de10 milhões vivem no Brasil.
Onze anos se passaram neste novo milênio, porém o resultado da larga arena de lutas fratricidas do século XX ainda ecoa nos vagidos de cada criança que renasce. As atuais teorias sociais permanecem em sua trajetória equivocada, tangendo não raro a linha tenebrosa do extremismo. É urgente que novas propostas teóricas interpretem a paz social em termos de valores mais transcendentes. Tais teses comprovarão a assertiva dos Espíritos e do Evangelho de que os bens materiais não trazem felicidade.
Tempos de combates sinistros, desde os primeiros anos do século XX, a guerra se instalou com caráter permanente em quase todas as regiões do Planeta. Todos os pactos de segurança da paz oriundos das convenções internacionais após a I Guerra Mundial não foram senão fenômenos da própria guerra, que culminaram com o apogeu da II Guerra Mundial. A Europa e o Oriente constituem ainda hoje um campo vasto de agressão e terrorismo. Por isso, “a América recebeu o cetro da civilização e da cultura, na orientação dos povos porvindouros. Nos campos exuberantes do continente americano estão plantadas as sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro”, segundo Emmanuel.(4)
Onde se encontram os valores morais da sociedade contemporânea? Muitas religiões estão amordaçadas pelas injunções de ordem econômica e política. Somente a Doutrina dos Espíritos tem efetuado o esforço hercúleo de sustentar acesa a luz da crença nas plagas iluminadas da razão, da cultura e do direito. Embora, seja “o esforço do Espiritismo quase superior às suas próprias forças, mas o mundo não está à disposição dos ditadores terrestres. Jesus é o seu único diretor no plano das realidades imortais.” (5)
Os Benfeitores, que guiam os destinos da Humanidade, se movimentam a favor do restabelecimento da verdade e da paz, a caminho de uma nova era. Emmanuel faz menção sobre “uma nova reunião da comunidade das potências angélicas do sistema solar (da qual é Jesus um dos membros divinos) e que planejam reunirem-se, novamente, pela terceira vez, na atmosfera terrestre (desde que o Cristo recebeu a sagrada missão de abraçar e redimir a nossa Humanidade), deliberando novamente sobre os destinos da Terra. Que resultará dessa reunião dos espíritos superiores? Deus o sabe. Nas grandes transições do século que passa, aguardemos o seu amor e a sua misericórdia.”(6)
Não desconsideramos, nessas reflexões, a rejeição que padecem os excluídos da sociedade, porquanto a ganância pelo dinheiro atinge patamares surrealistas. Estarrece-nos a avidez dos adolescentes pelo sexo, quase sempre remetidos aos pântanos da indigência moral. Hoje em dia, as pessoas vacilam em sair às ruas, defronte dos assaltos e sequestros-relâmpagos que têm ocorrido a todo o momento. São ocasiões de muita inquietude e de grande volubilidade emocional.
Ainda sofremos os ressaibos amargosos dos contrastes de uma suprema tecnologia no campo da informática, das telecomunicações, da genética, das viagens espaciais, dos supersônicos, dos raios laser, do mesmo modo em que ainda temos que coexistir com a febre amarela, a tuberculose, a aids, e com todos os tipos de droga (cocaína, heroína, skanc, ecstasy, o crack, oxi etc).
Nesse cenário fatídico, a mensagem do Cristo é um elixir poderoso, o mais confiável para a redenção social, que haverá de entranhar em todas as consciências humanas, como um dia penetrou no altruísmo de Vicente de Paulo, na solidariedade de irmã Dulce, na amabilidade de Francisco de Assis, na suprema ternura de Teresa de Calcutá, na humildade de Chico Xavier.
Aprendamos a dilatar a misericórdia sem pieguismos, desenvolver generosidade que começa no procedimento de dar coisas, para culminar no dom de doarmo-nos, decididamente, ao próximo. Fazer algo de bom, e que ninguém saiba, especialmente por um desafeto qualquer. Nesse desempenho, podermos enunciar o sereno brado como o fez o Convertido de Damasco: "Já não sou quem vive, mas o Cristo é quem vive em mim..." (7)
Para Emmanuel, “as revelações do além-túmulo descerão às almas, como orvalho imaterial, preludiando a paz e a luz de uma nova era. Numerosas transformações são aguardadas e o Espiritismo esclarecerá os corações, renovando a personalidade espiritual das criaturas para o futuro que se aproxima.”(8) “Então, perguntar-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? - Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? - E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? - O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes.”(9)


Referência bibliográfica:

(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, capítulo V, Lei de Conservação, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000)
(2) Idem questão 799
(3) O Fundo das Nações Unidas para a Infância (em inglês United Nations Children's Fund – UNICEF) é uma agência das Nações Unidas que tem como objectivo promover a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar resposta às suas necessidades básicas e contribuir para o seu pleno desenvolvimento.
(4) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1976
(5) idem
(6) idem
(7) Galatas.2, 20
(8) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1976
(9) Mateus 25:36-46



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 NOSSA CONTABILIDADE
                    Redação do Momento Espírita
                    http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3118&stat=0
                    
                    Uma das coisas importantes desses tempos do mundo é a contabilidade de débitos e 

créditos.
                    
                    Vale lembrar que essa contabilidade nasceu no século XV, em 1494. Foi criada por um monge franciscano chamado Luca Pacioli.
                    
                    Seu objetivo era auxiliar aos mercadores, aos comerciantes, negociantes de Veneza que precisavam gerenciar suas economias crescentes.
                    
                    Eles encontraram, no trabalho do monge franciscano Luca Pacioli, um elemento importantíssimo para melhor analisar perdas, ganhos, no bojo das suas realizações.
                    
                    E a Humanidade tem experimentado muito sucesso ao fazer uso dessa contabilidade: débito - crédito.
                    
                    Isso entrou de tal modo na vida das pessoas, que usamos essa maneira de pensar, essa metodologia de lidar com valores, no nosso cotidiano.
                    
                    Falamos a respeito de débito e crédito, em termos morais: Você tem débito comigo. Eu tenho crédito com você. Você tem créditos para comigo. Eu tenho débitos para com você.
                    
                    É importante verificarmos que todos nós, de uma maneira ou de outra, teremos o nosso tempo de prestar contas do que estamos fazendo da nossa existência.
                    
                    Se não sabemos bem administrá-la, certamente contrairemos débitos.
                    
                    Se conseguirmos bem administrá-la, teremos os créditos decorrentes de nosso juízo, de nossa boa ação, da grandeza que criamos com a nossa vida na Terra.
                    
                    Por isso é que nos cabe refletir nessa dinâmica da vida, que nos remete sempre a fazer esse balanço, entre os créditos que a Divindade nos confiou e os débitos que  contraímos, face ao mau uso ou ao desuso desses créditos Divinos.
                    
                    Assim, cada vez que usamos mal, por exemplo, o crédito da palavra, usamos mal o nosso falar, adquirimos débitos para o futuro.
                    
                    Cada vez que utilizamos mal o crédito da visão, criamos problemas para o nosso amanhã.
                    
                    O crédito dos nossos pés, da nossa inteligência, das oportunidades sociais, tudo isto vai fazendo parte dos elementos de que dispomos na Terra para viver da melhor maneira.
                    
                    E também são créditos Divinos a família, os amigos, o trabalho, a saúde.
                    
                    Muitas vezes, em nome da nossa loucura, da nossa inconsciência, acabamos por usar mal os créditos que a Divindade nos confiou.
                    
                    Por isso se faz de importância assumirmos nossas falhas e nossos acertos. Aquilo que erramos, colocamos no prato simbólico de uma balança e aquilo que acertamos colocamos no outro prato da balança.
                    
                    A partir daí, teremos o estabelecimento do peso entre débito e crédito, o que nos sobrará.
                    
                    E nesse balanço, não há nenhum motivo para desesperação, não há nenhum motivo para que nos percamos desfigurados de remorsos.
                    
                    O tempo de agora é o tempo da oportunidade de corrigirmos o que ficou mal pintado em nossa tela.
                    
                    É o tempo de acertar, corrigindo o passo que não tenha sido bem dado em nossa vida e, graças a isso, trabalharmos no sentido de que a contabilidade Divina possa reconhecer nossos créditos e justificar os nossos débitos com as coisas boas que fazemos.
                    
                    Pensemos nisso!
                    
                    Redação do Momento Espírita, com base no programa televisivo Vida e valores - Débitos e créditos, gravado por Raul Teixeira, em agosto de 2009, no Teatro da Federação Espírita do Paraná.

                    Em 22.08.2011.
                    
                    * * *
                    
                    
                    
                    Com esta mensagem eletrônica
                    seguem muitas vibrações de paz e amor
                    para você
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                    http://www.aeradoespirito.net/


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Prezado amigo Areton,

Li em seu blog a sua comunicação informando sobre o acidente envolvendo seu filho. Nesse momento de aflição empresto-lhe minha solidariedade com o desejo de que Deus conceda ao Júnior, e a todos de sua família, a coragem moral e a serenidade necessárias para o enfrentamento dessa pungente provação.

Abraço-lhe fraternalmente.

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Mais uma tramóia de Lula na Bolívia.
Tudo começou em 2007, quando a OAS assumiu obras da Queiroz Galvão, que Evo Morales ameaçava expulsar do país por problemas em uma obra. No pacote de conciliação, Lula prometeu e deu um financiamento de U$ 332 milhões do BNDES para construir uma estrada ligando Beni a Cochabamba, cortando ao meio um território indígena. Ocorre que, hoje, as populações afetadas pela estrada não querem a obra e Evo Morales está radicalizando, colocando em risco todo o empreendimento. Quem é chamado para resolver? Ele, Lula, que está indo à Bolívia negociar com o ínido cocalero, para proteger os interesses da OAS. Aliás, uma das maiores doadoras de campanhas do PT. Aliás, o evento em que Lula vai palestrar e, provavelmente, ganhar U$ 200 mil, também é da OAS. Lula é um excepcional negociante: ganhou dando o financiamento a juros amigáveis, agora vai ganhar cobrando o financiamento. É um especialista em levar vantagem em tudo e o grande inspirador da atual situação da corrupção desenfreada que tomou conta do setor público do Brasil. Lula não tem vergonha na cara. Leia aqui a matéria do Valor Econômico.


O bolsismo petista chega à classe média.
Governo vai "emprestar" R$ 3,0 bilhões para 3 milhões de pipoqueiros, costureiras, ambulantes, camelôs e outros pequenos produtores e comerciantes, sem nenhum programa de capacitação que ensine como investir este capital. O objetivo, na verdade, é outro. É o bolsismo petista chegando à classe média. Em 2014, a gente vai ouvir: "este carrinho de pipoca foi a Dilma que deu", " esta máquina de costura foi a Dilma que garantiu"...

A presidente Dilma Rousseff afirmou ao longo de seu programa de rádio “Café com a presidenta”, que foi ao ar na manhã desta segunda-feira (29), que o programa “Crescer”, que dará crédito a baixo custo aos microempreendedores, atingirá cerca de 3,5 milhões pessoas em todo o país e vai exigir R$ 3 bilhões.Segundo Dilma, a taxa de juro do programa será de 8% ao ano e se transformará em um “empurrãozinho” do governo. “O crédito para as pessoas que têm ou querem ter um pequeno negócio ficou, agora, mais fácil e mais barato. A partir de agora, o pequeno empreendedor que pegar dinheiro emprestado vai pagar uma taxa de juros bem mais baixa, de apenas 8% ao ano. Antes, a taxa de juros chegava a 60% ao ano, agora baixou. Este crédito foi criado para, por exemplo, uma costureira, que está precisando trocar a velha máquina de costura; para o pipoqueiro, que deseja adquirir um carrinho mais moderno; para o artesão, que está precisando comprar material de trabalho. É um crédito para quem precisa de um empurrãozinho”.

O incentivo, de acordo com a presidente, não é pouco. “Queria dizer qual é o tamanho do empurrãozinho. O tamanho é de R$ 15 mil por pessoa”. Dilma disse que além de juro baixo, a tarifa de abertura de crédito também será baixa. “Baixamos a tarifa de abertura de crédito. Caiu de 3% para 1% do valor emprestado. Essas condições valem para todas as pessoas, como trabalhadores, empreendedores individuais, microempresários, também para aqueles que têm faturamento de até R$ 120 mil por ano”. Dilma espera atingir 3,5 milhões de brasileiros. “Até 2013, Luciano, os nossos bancos vão trabalhar para que 3,5 milhões de pessoas tenham oportunidade de obter o seu microcrédito. Serão R$ 3 bilhões, só para começar. Não faltarão recursos para o Microcrédito Produtivo Orientado”. (Informação do G-1)

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Dilma e o governo-conluio

Em nome da governabilidade, aceita-se a nomeação de políticos de caráter duvidoso e cria-se uma espetacular rede de proteção corporativa

Rubens Figueiredo, O Estado de S. Paulo

Nem tudo que é bom para o Brasil é bom para o governo. A presidente Dilma Rousseff, ao se empenhar em resgatar princípios republicanos, promovendo a famosa faxina nos ministérios, certamente beneficia o País. Mas, ao mesmo tempo, expõe o ex-presidente Lula e o PT, gerando, de quebra, um imenso descontentamento nos partidos da base aliada. E passa para a sociedade a ideia de um governo instável, imerso em corrupção.

Dilma é cria de Lula, o presidente ídolo, o presidente show, o rei dos discursos, o comunicador talentoso e o pai moderno dos pobres.

Em pouquíssimo tempo, Dilma conseguiu imprimir uma marca à sua gestão e criou um estilo todo próprio de conduta. Para alguém que sucede a um fenômeno e era totalmente desconhecida pelo eleitorado há um ano, trata-se de verdadeira epopeia.

O quadro é complexo. A presidente ganhou a simpatia da classe média tradicional, aquele conjunto de cidadãos de escolaridade mais alta e mais informado sobre política. Sua avaliação, entretanto, piorou no conjunto da sociedade, segundo todas as pesquisas recentes divulgadas. Ainda é alta, pois Lula entregou o governo nos píncaros da glória. Mas caiu.

A performance de um governo, entretanto, não é medida apenas pela ação do chefe de governo. Precisa ter projetos, prestar bons serviços, melhorar a vida das pessoas, aprovar leis importantes.

Num sistema político de presidencialismo de coalização, no qual os governos são formados com a participação de partidos coligados, fazer uma boa administração significa ter uma excelente relação com os grupos aliados. Um governo paralisado ou em "marcha lenta" jamais será inscrito no rol dos mais eficientes.

Isso criou, no Brasil, a ideia do governo-conluio. Em nome da governabilidade, aceita-se uma pletora de nomeações de políticos de caráter duvidoso e cria-se uma espetacular rede de proteção corporativa, que nos governos anteriores era capitaneada pelo próprio presidente.

Combater corrupção, as pesquisas mostram, não é prioridade para a ampla maioria dos eleitores. Pode vir a ser, se a presidente Dilma conseguir dar às suas ações um caráter educativo e convencer a sociedade de que, pelo menos no caso da sua faxina, o que é bom para o Brasil pode ser bom também para o governo.

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A espada inexorável que flameja - Antero de Quental

A espada inexorável que flameja
No horizonte dum povo impenitente,
E não poupa, na ameaça indiferente,
Nem tugúrio, nem paço, nem igreja;

O gládio que encoberto peregrino
Ergue, imprevisto, nas humanas liças,
A espada das históricas justiças,
A espada de Deus e do Destino;

De que pensais que é feita? Porventura
Pensais que é feita dum metal terreno,
Cheio de jaça e fezes, e em veneno
Temperado talvez por mão impura?

Que é feita de cobiça e violência?
E de ódios cegos, brutos, truculentos?
De cobardes e falsos pensamentos?
De ultraje, de furor e de demência?

Quanto vos iludis, irmãos! Sabei-o,
Homens de pouca fé! sabei que a espada
Sinistra e em cuja folha esbraseada
Uma palavra em língua estranha eu leio,

Que esse rubro sinal de mudo espanto,
Fixo, pregado ali num céu terrível,
Contínuo, inquebrantável, inflexível
À prece, à ameaça, à dor, ao pranto,

Que essa espada da morte e do pavor
É só feita de Bem inalterável,
De Verdade ideal e impecável…
E que esse açoite é feito só de Amor!

Sabei, povos, que em horas de demência
Amaldiçoais a mão que vos castiga:
Essa inflexível mão é mão amiga,
É a mão paternal da Providência!



Antero de Quental (Ponta Delgada, Portugal, 18 de abril de 1842 - Ponta Delgada, 11 de setembro de 1891) - Poeta ligado à chamada "geração de 70" portuguesa, também foi ensaísta, fundou, em Lisboa, a Sociedade do Raio, que tinha o objetivo de renovar o país pela literatura. Formou também o Cenáculo, ao lado de Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão.

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A MAIS URGENTE REFORMA

Por Carlos Chagas

No Congresso,  deputados e senadores  continuam discutindo, debatendo e anunciando as reformas políticas. Salvo engano, são apenas retóricas, porque votar, mesmo, ninguém vota a fidelidade partidária, a limitação do número de partidos políticos,  a eleição para deputado em liustas partidárias,   o financiamento público das campanhas, o fim da reeleição e outras necessidades urgentes.

Agora tem um problema: a mais urgente das reformas não é política, mas do Judiciário.

A Justiça, no Brasil, continua lenta, andando a passos de tartaruga. Da mesma forma, continua sendo uma justiça cara, aberta apenas aos que tem dinheiro.

Existem ações que levam dez, quinze até vinte anos, sem solução. A ironia está em que, quem tem dinheiro, consegue paralisar a Justiça e  empurrar com a barriga ações variadas,    deixando  de pagar centenas de milhões, enquanto o coitado que deixou de pagar uma prestação da geladeira geralmente é condenado.

Tome-se o que acontece na Justiça do Trabalho, com muita frequência.  Um determinado grupo ou até  um par de aventureiros  compra, por exemplo, uma rede de televisão que andava falida.   A dupla obtém do governo, sabe-se lá porque meios, a transferência da concessão que só poderia acontecer com o aval do Congresso. Aliás, venceu o período da primeira concessão, aguardando-se como e se será renovada.

Essa singular quadrilha de dois membros deveria  ter comprado  tudo, ou seja, o ativo e o passivo. Mas os  malandros   ficaram com o faturamento e entregaram as dívidas  à Justiça. E para início de conversa,  a Justiça do Trabalho  deixa  escoarem anos a fio sem   obrigá-los a saldar as dívidas trabalhistas,  devidas a quantas  centenas de  funcionários trabalharam anos a fio e foram garfados, demitidos sem receber um centavo de indenização.  Pior do que isso, o Superior Tribunal de Justiça interpretou de forma singular  a nova Lei de Falências,  permitindo que os compradores da suposta “parte boa” não tivessem  obrigações com  a “parte podre”.  Não estão mais obrigados a indenizar os trabalhadores.

A lei, como quase toda lei, é feita pelos poderosos. Serve apenas para beneficiá-los: já não podiam  ir à falência por conta de dívidas trabalhistas.  Agora, não precisam sequer responder por elas. O lobisomem que pague as indenizações, porque eles continuarão  vivendo como nababos.  Um dono de botequim vai  à desgraça, se não pagar as galinhas que comprou e não pagou. Magnatas da mídia, não.

Esse exemplo que estamos dando não é retórico nem figurado.  É real. Em respeito à Justiça, apesar de tudo, não é o   momento de fulanizar ninguém.  Mas todo jornalista sabe do que estamos divulgando...

QUEM AVISA AMIGO É

Vale, por um dia, começar além da  política nacional, arriscando  um mergulho lá fora. O que está acontecendo na Europa e quase aconteeu nos Estados Unidos,   onde bancos estão falindo, cidadãos sendo despejados de suas casas, economias desmanchando-se como sorvete e, last bus not least, magnatas conseguindo salvar suas fortunas e mandando a conta para a classe média e o  povão através de aumento de impostos, desemprego em massa e supressão  de investimentos sociais.       O risco, como em 1929, é de multidões ganharem  as ruas, enfrentando a polícia e depredando tudo o que encontram pela frente.   Tornarão impossível a vida do cidadão comum,  instaurando  o caos. Por que?

É preciso  notar que esse protesto anunciado  começa com a inadimplência mas logo chega à fome, à miséria e  à doença.

Não dá  mais para dizer que essa monumental  revolta prevista com data  marcada é outra solerte manobra do comunismo ateu e malvado. O comunismo acabou. Saiu pelo ralo.  A causa do que vai ocorrendo repousa precisamente no extremo   oposto: trata-se do resultado do neoliberalismo. Da consequência de um pérfido  modelo econômico e político que privilegia as elites e os ricos, países e pessoas, relegando  os demais ao desespero e à barbárie.

Fica evidente não se poder concordar com a violência.  Jamais justificá-la.  Mas explicá-la, é possível.  Povos de nações e até de  continentes largados ao embuste da livre concorrência, explorados pelos mais fortes,   tiveram como primeira opção emigrar para os países ricos. Encontrar emprego, trabalho ou meio de sobrevivência. Invadiram a Europa como  invadem os Estados Unidos, onde o número de latino-americanos cresce a ponto de os candidatos a postos eletivos obrigarem-se a falar espanhol,  sob pena de derrota nas urnas. O problema é que serão os primeiros a sofrer. Perderão empregos, bicos e mesmo o direito de pedir esmola.

Preparem-se os  neoliberais. Os protestos não demoram a atingir as  nações   ricas.   Depois, atingirão os ricos das nações  pobres. O que fica impossível é empurrar por mais tempo com a barriga a  divisão do planeta entre inferno e paraíso, entre  cidadãos de primeira e de segunda classe. Segunda?  Última classe, diria o bom senso, porque serão aqueles a quem a conta da crise será apresentada.

Como refrear a  multidão  de jovens sem esperança, também  de homens feitos e até de idosos,  relegados à situação  de  trogloditas em pleno século XXI?  Estabelecendo a ditadura, corolário mais do que certo do neoliberalismo em agonia? Não   vai dar,  à   medida em que a miséria se multiplica e a riqueza se acumula.  Explodirá tudo.

Estênio Negreiros
Fortaleza,CE

"As leis são como as teias de aranha; os pequenos insetos prendem-se nelas, e os grandes rasgam-nas sem custo”. (Anacaris, sábio grego, da Antiguidade)

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