Carlos Newton
Desde Ionesco, Beckett e Arrabal, o Teatro do Absurdo faz sucesso e se mantém como um dos gêneros de maior criatividade. Como o próprio nome diz, o Teatro do Absurdo se propõe a revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo
que é considerado normal pela sociedade hipócrita, intensificando bem as neuroses e loucuras dos personagens.
Aqui no Brasil, nossos políticos não poderiam ficar atrás em termos de criatividade e acabam de criar o Governo do Absurdo, que também parece destinado a ter grande sucesso. Vejamos esse curioso episódio do Ministério dos Transportes, que subitamente perdeu seu principal elemento, um ministro ridículo, que desde 2003 se mantinha no cargo, única e exclusivamente para preservar no Senado o suplente João Pedro, grande amigo do ex-presidente Lula, vejam só que início de enredo absurdo.
Faz sucesso na internet um vídeo divulgado pela revista IstoÉ, mostrando que Nascimento jamais teve a menor condição de ser ministro. Pelo contrário, como pode um ministro tão experiente desconhecer a existência da cidade de Imperatriz, a segunda mais importante do Maranhão?
A conversa gravada no Ministério entre Nascimento, o deputado Valdemar Costa Neto e o deputado federal Davi Alves Dias Jr., sobre a construção de uma estrada até Davinópolis (em homenagem a Davi pai, ex-deputado federal), é uma obra de arte em termos de diálogo absurdo.
Alfredo Nascimento – Já vou logo copiar aqui o pedido dele… Davi Alves da Silva Júnior, BR- 010, construção da travessia urbana…
Deputado Valdemar Costa Neto – … de Imperatriz.
Deputado Davi Alves da Silva Júnior – Imperatriz, acesso a Davinópolis.
Costa Neto – Já começou o projeto, não é, Davi?
Davi Júnior – Já.
Costa Neto – Já estão contratando, já está na fase final, viu, Alfredo?… Por isso que ele (deputado Davi Júnior) veio aqui te agradecer.
Nascimento – Ah!… É aquele negócio que tu me pediste?
Costa Neto – É, é…
Nascimento – Pra ele? (referindo-se ao deputado Davi Alves)
Costa Neto – É…
Nascimento – Rapaz, tu não tá nem no partido e já tá conseguindo arrancar as coisas daqui, imagina quando estiver no partido! (diz, dirigindo-se ao deputado Davi) (risos).
Na sequência da conversa, o ministro faz uma rápida leitura no texto que libera R$ 1,5 milhão para a obra e demonstra assinar de qualquer jeito o documento indicado por Costa Neto, sem saber do que se trata, nem mesmo em que lugar do Maranhão o projeto será implantado. Quem dispunha de todas as informações é Costa Neto, que agia como se fosse o verdadeiro ministro.
Nascimento – … (lendo o documento) informo que está sendo liberado nesta data limite adicional para movimentação do empenho, no valor de um milhão e meio de reais…
Costa Neto – Um milhão e meio, você que liberou.
Nascimento – (ainda lendo o documento) … Ação… estudo de viabilidade e projeto de infra-estrutura de transporte, travessia urbana, na divisa das cidades de Divinópolis e Imperatriz.
Davi Júnior – Davinópolis (corrigindo o nome da cidade maranhanse).
Nascimento – São duas cidades?
Costa Neto – É Davinópolis… “Da”…
Davi Júnior – Não, Davinópolis é a entrada, né?… seria a entrada.
Nascimento – São duas cidades?
Davi Júnior – São duas cidades, isso.
Costa Neto – Mas são ligadas?… Não?… não?…é só acesso.
Davi Júnior – É só acesso, é BR e o acesso… tem aquele bairro, que é o conjunto Vitória, onde… acontece mais acidente é ali.
Nascimento – Porque o acesso a gente só pode fazer até cinco quilômetros…
Costa Neto – … Mas estão fazendo o projeto já… Só pega a parte da BR, não vai entrar na cidade… Isso que você liberou.
No final da conversa, mais uma vez o ministro mostra que não tinha conhecimento sobre a obra que estava aprovando.
Nascimento – É Davi ou Divinópolis?
Davi Júnior – É Davi… Ah, que botaram Divinópolis aqui (olhando para o documento), é Davi… é Davi mesmo.
Nascimento – Porra, você dono da cidade?
Costa Neto – É Davi, por causa do nome dele, por causa do pai dele, o pai dele que fez a cidade, o pai dele era deputado federal, Alfredo.
Nascimento – … (observando os documentos) Então Davinópolis e Imperatriz… Mas não são as duas, é só uma.
Como esse tipo de ministro e essa atuação do Ministério, a presidente da República não teve opção: em pleno fim de semana, mandou demitir a cúpula do Ministério dos Transportes, formada por Luiz Antônio Pagot, Mauro Barbosa, Luiz Tito Bonvini e José Francisco das Neves, o Juquinha, muito ligado ao deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), que em 2005 renunciou ao mandato para escapar da cassação por causa de envolvimento no mensalão, configurando um caso de reincidência específica em corrupção. Em seguida, o próprio ministro Alfredo Nascimento foi demitido.
Um dos executivos afastados, Luiz Antonio Pagot, diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), se recusou a obedecer à ordem da presidente da República e entrou de férias. Logo insinuou que recebia ordens do governo para aditar contratos e praticar outras irregularidades, através do então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e até se ofereceu para depor no Congresso.
Diante dos parlamentares, no Senado, mudou tudo e fez uma ardorosa defesa do Ministério e do Dnit, garantindo que lá não existe corrupção. Seu padrinho e protetor, o senador Blairo Maggi, imediatamente saiu na defesa dele e propôs que Pagot permaneça no cargo, era só o que faltava.
Ontem, Pagot prestou novo depoimento, na Câmara, e desta vez disse que recebeu “orientação” para sair em férias logo após as denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes. Neste segundo depoimento, na Câmara, ele falou diversas vezes como se fosse permanecer no cargo.
Desta vez, Pagot não falou de quem recebeu a orientação para sair de férias. Na terça-feira, porém, durante audiência no Senado, disse que foi o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.
“Recebi instrução para entrar de férias. O meu afastamento foi publicado nas revistas, mas minha instrução foi para sair de férias. Se vou continuar de férias só depende de Dilma”, afirmou.
Bem, no Governo do Absurdo, onde se faz tanto teatro, tudo é mesmo possível. Como a corrução continuidada e e incompetência preservada. Mas que país é esse? Só Frncelino Pereira saberia responder. Absurdamente, é claro.
Desde Ionesco, Beckett e Arrabal, o Teatro do Absurdo faz sucesso e se mantém como um dos gêneros de maior criatividade. Como o próprio nome diz, o Teatro do Absurdo se propõe a revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo
que é considerado normal pela sociedade hipócrita, intensificando bem as neuroses e loucuras dos personagens.
Aqui no Brasil, nossos políticos não poderiam ficar atrás em termos de criatividade e acabam de criar o Governo do Absurdo, que também parece destinado a ter grande sucesso. Vejamos esse curioso episódio do Ministério dos Transportes, que subitamente perdeu seu principal elemento, um ministro ridículo, que desde 2003 se mantinha no cargo, única e exclusivamente para preservar no Senado o suplente João Pedro, grande amigo do ex-presidente Lula, vejam só que início de enredo absurdo.
Faz sucesso na internet um vídeo divulgado pela revista IstoÉ, mostrando que Nascimento jamais teve a menor condição de ser ministro. Pelo contrário, como pode um ministro tão experiente desconhecer a existência da cidade de Imperatriz, a segunda mais importante do Maranhão?
A conversa gravada no Ministério entre Nascimento, o deputado Valdemar Costa Neto e o deputado federal Davi Alves Dias Jr., sobre a construção de uma estrada até Davinópolis (em homenagem a Davi pai, ex-deputado federal), é uma obra de arte em termos de diálogo absurdo.
Alfredo Nascimento – Já vou logo copiar aqui o pedido dele… Davi Alves da Silva Júnior, BR- 010, construção da travessia urbana…
Deputado Valdemar Costa Neto – … de Imperatriz.
Deputado Davi Alves da Silva Júnior – Imperatriz, acesso a Davinópolis.
Costa Neto – Já começou o projeto, não é, Davi?
Davi Júnior – Já.
Costa Neto – Já estão contratando, já está na fase final, viu, Alfredo?… Por isso que ele (deputado Davi Júnior) veio aqui te agradecer.
Nascimento – Ah!… É aquele negócio que tu me pediste?
Costa Neto – É, é…
Nascimento – Pra ele? (referindo-se ao deputado Davi Alves)
Costa Neto – É…
Nascimento – Rapaz, tu não tá nem no partido e já tá conseguindo arrancar as coisas daqui, imagina quando estiver no partido! (diz, dirigindo-se ao deputado Davi) (risos).
Na sequência da conversa, o ministro faz uma rápida leitura no texto que libera R$ 1,5 milhão para a obra e demonstra assinar de qualquer jeito o documento indicado por Costa Neto, sem saber do que se trata, nem mesmo em que lugar do Maranhão o projeto será implantado. Quem dispunha de todas as informações é Costa Neto, que agia como se fosse o verdadeiro ministro.
Nascimento – … (lendo o documento) informo que está sendo liberado nesta data limite adicional para movimentação do empenho, no valor de um milhão e meio de reais…
Costa Neto – Um milhão e meio, você que liberou.
Nascimento – (ainda lendo o documento) … Ação… estudo de viabilidade e projeto de infra-estrutura de transporte, travessia urbana, na divisa das cidades de Divinópolis e Imperatriz.
Davi Júnior – Davinópolis (corrigindo o nome da cidade maranhanse).
Nascimento – São duas cidades?
Costa Neto – É Davinópolis… “Da”…
Davi Júnior – Não, Davinópolis é a entrada, né?… seria a entrada.
Nascimento – São duas cidades?
Davi Júnior – São duas cidades, isso.
Costa Neto – Mas são ligadas?… Não?… não?…é só acesso.
Davi Júnior – É só acesso, é BR e o acesso… tem aquele bairro, que é o conjunto Vitória, onde… acontece mais acidente é ali.
Nascimento – Porque o acesso a gente só pode fazer até cinco quilômetros…
Costa Neto – … Mas estão fazendo o projeto já… Só pega a parte da BR, não vai entrar na cidade… Isso que você liberou.
No final da conversa, mais uma vez o ministro mostra que não tinha conhecimento sobre a obra que estava aprovando.
Nascimento – É Davi ou Divinópolis?
Davi Júnior – É Davi… Ah, que botaram Divinópolis aqui (olhando para o documento), é Davi… é Davi mesmo.
Nascimento – Porra, você dono da cidade?
Costa Neto – É Davi, por causa do nome dele, por causa do pai dele, o pai dele que fez a cidade, o pai dele era deputado federal, Alfredo.
Nascimento – … (observando os documentos) Então Davinópolis e Imperatriz… Mas não são as duas, é só uma.
Como esse tipo de ministro e essa atuação do Ministério, a presidente da República não teve opção: em pleno fim de semana, mandou demitir a cúpula do Ministério dos Transportes, formada por Luiz Antônio Pagot, Mauro Barbosa, Luiz Tito Bonvini e José Francisco das Neves, o Juquinha, muito ligado ao deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), que em 2005 renunciou ao mandato para escapar da cassação por causa de envolvimento no mensalão, configurando um caso de reincidência específica em corrupção. Em seguida, o próprio ministro Alfredo Nascimento foi demitido.
Um dos executivos afastados, Luiz Antonio Pagot, diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), se recusou a obedecer à ordem da presidente da República e entrou de férias. Logo insinuou que recebia ordens do governo para aditar contratos e praticar outras irregularidades, através do então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e até se ofereceu para depor no Congresso.
Diante dos parlamentares, no Senado, mudou tudo e fez uma ardorosa defesa do Ministério e do Dnit, garantindo que lá não existe corrupção. Seu padrinho e protetor, o senador Blairo Maggi, imediatamente saiu na defesa dele e propôs que Pagot permaneça no cargo, era só o que faltava.
Ontem, Pagot prestou novo depoimento, na Câmara, e desta vez disse que recebeu “orientação” para sair em férias logo após as denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes. Neste segundo depoimento, na Câmara, ele falou diversas vezes como se fosse permanecer no cargo.
Desta vez, Pagot não falou de quem recebeu a orientação para sair de férias. Na terça-feira, porém, durante audiência no Senado, disse que foi o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.
“Recebi instrução para entrar de férias. O meu afastamento foi publicado nas revistas, mas minha instrução foi para sair de férias. Se vou continuar de férias só depende de Dilma”, afirmou.
Bem, no Governo do Absurdo, onde se faz tanto teatro, tudo é mesmo possível. Como a corrução continuidada e e incompetência preservada. Mas que país é esse? Só Frncelino Pereira saberia responder. Absurdamente, é claro.
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