sexta-feira, 24 de junho de 2011

PÉROLAS DO ESTÊNIO


-EDITORIAL-

-A Necessidade do Espiritualismo na Educação-
Por José Estênio Gomes Negreiros

                Há uma diferença sutil, mas fundamentalmente importante, entre os vocábulos educação e instrução, conforme se pode ver consultando um bom dicionário da nossa Língua, como por exemplo, o Novo Dicionário Aurélio da 

Língua Portuguesa (Editora Nova Fronteira). Numa das definições aquela obra explica que educação é um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral (grifo meu) da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social; e instrução significa, entre outras definições, conhecimentos adquiridos; cultura; saber, erudição. Nota-se, assim, que são dois processos que se fundem, mas não se confundem. A educação, quando bem orientada, será sempre a estrutura onde se moldará o caráter e se edificará a moral, enquanto a instrução, que guia no cultivo e ornamenta a inteligência, sempre dependerá do foco luminoso da verdadeira educação.
                Atrevemo-nos a fazer esse paralelo de conceitos tendo sempre em vista os equívocos e os desacertos que se verificam com a educação da juventude brasileira, fato sobejamente conhecido de todos nós, principalmente por aqueles diretamente envolvidos com o tema, tais como professores, educadores, pais de alunos, legisladores e governantes.
                Nos últimos dez anos do último século e nos primeiros dez anos do século em curso temos assistido a um irrefreável despencar na qualidade do ensino das nossas escolas fundamentais e secundárias, cujo baque termina no ensino superior com graves conseqüências na formação dos profissionais de todos os níveis e de todas as carreiras. E aqui nos referimos tanto ao ensino público como ao particular.
                O que mais intriga e revolta àqueles envolvidos no processo educacional brasileiro é saber-se que esse fenômeno ocorre exatamente num momento como o presente em que o País desfruta bons indicadores econômicos e a sua propaganda governamental alardeia que o barco da nossa Economia navega num oceano de almirante. Os recursos financeiros destinados ao setor são vultosos - embora sempre insuficientes em razão da corrupção que os desvia das suas verdadeiras finalidades -, e a Educação é sempre a bandeira desfraldada por políticos em épocas eleiçoeiras. Os mesmos que prometem mundos e fundos, quando eleitos esquecem o que prometeram e reclamam da carência de dinheiros para realizarem aquilo que na verdade não pretendiam fazer. Tudo enganação e encenação!
                Tão pouca importância – e quiçá propositadamente – dedica o Governo Federal Brasileiro ao ensino e à educação, que o Ministério da Educação e Cultura, nos últimos dois, três anos, vem adotando medidas inaceitáveis, esdrúxulas até, que nos escandalizam e ferem de morte e desmoralizam o cambaleante sistema educacional brasileiro. Sabe-se lá com que intenção.
                Enquanto a sociedade reclama e se indigna e os governantes se omitem e enganam, o ensino se avilta, se degrada. A classe do Magistério, que deveria ser uma das profissões mais bem remuneradas, é humilhada porquanto lhe negam salários justos e merecidos. A conseqüência é o desestímulo para com o exercício de tão digna atividade e que vai desaguar na má qualidade da pedagogia ministrada à nossa juventude.
                A chamada grade curricular escolar inclui parcamente - ou nenhumas - matérias voltadas para a formação moral-ético-religiosa dos alunos, que fomentem o espiritualismo, instruindo a cada ano letivo milhares de jovens sem nenhuma espiritualidade, embevecidos tão-somente com o materialismo, a idolatria a deuses de pés de barro, à vaidade e ao hedonismo, elegendo o ter em detrimento do ser. O resultado dessa imprevidência todos nós conhecemos: o aumento da violência entre o corpo discente das escolas, o desinteresse no aprendizado, a baixa freqüência às aulas, etc. É certo que outros fatores exógenos contribuem para o desenho desse quadro desalentador, como o uso e o tráfico de drogas cada dia mais acentuados no interior dos colégios e das universidades. Mas tais fatores decorrem precisamente da falha na formação moral dos jovens, muitas vezes com origem no seio da própria família.
                No alvorecer do século XX, precisamente no ano de 1908, o escritor e filósofo espírita francês, Léon Denis, já denunciava uma situação preocupante e predominante no sistema educacional da França, destituído de espiritualismo e de valores morais, no intróito da sua excelente obra <O Problema do Ser do Destino e da Dor>, publicado no Brasil pela Federação Espírita Brasileira. Lendo-se as observações ali contidas causa-nos admiração a semelhança da situação do ensino na França daquele tempo com a do ensino atual no Brasil. Leiamos, a seguir, alguns trechos daquela introdução.
                “(...) se o ensino ministrado pelas instituições humanas em geral – religiões, escolas, universidades – nos faz conhecer muitas coisas supérfluas, em compensação quase nada ensina do que mais precisamos conhecer para encaminhamento da existência terrestre e preparação para o Além. Aqueles a quem incumbe a alta missão de esclarecer e guiar a alma humana parecem ignorar a sua natureza e os seus verdadeiros destinos.”
                “Nos meios universitários reina ainda completa incerteza sobre a solução do mais importante problema com que o homem jamais se defronta em sua passagem pela Terra. Essa incerteza se reflete em todo o ensino. A maior parte dos professores e pedagogos afasta sistematicamente de suas lições tudo que se refere ao problema da vida, às questões de termo e finalidade...”
                “A educação que se dá às gerações é complicada, mas não lhes esclarece o caminho da vida; não lhes dá a têmpera necessária para as lutas da existência. O ensino clássico pode guiar no cultivo, no ornamento da inteligência, não inspira, entretanto, a ação, o amor, a dedicação.”
                Defendendo a imperiosa necessidade de se incutir na juventude e no homem como um todo o Espiritualismo, Léon Denis assim se expressa: “A crise moral e a decadência da nossa época provêm, em grande parte, de se ter o espírito humano imobilizado durante muito tempo. É necessário arrancá-lo à inércia, às rotinas seculares, levá-lo às grandes altitudes, sem perder de vista as bases sólidas que lhe vem oferecer uma ciência engrandecida e renovada. Esta ciência de amanhã, trabalhamos em constituí-la.”
                “A perturbação e a incerteza que verificamos no ensino repercutem e se encontram, dizíamos, na ordem social inteira. Em toda parte, dentro como fora, a crise existe, inquietante. Sob a superfície brilhante de uma civilização apurada, esconde-se um mal-estar profundo.” (...) O sentimento do dever se tem enfraquecido na consciência popular, a tal ponto, que muitos homens já não sabem onde está o dever. A lei do número, isto é, da força cega, domina mais do que nunca. Pérfidos retóricos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a propagar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e sopra o vento da tempestade, eles afastam de si toda a responsabilidade.”
                “Tal é o atual estado da Sociedade. O perigo é imenso e, se alguma grande renovação espiritualista e científica não se produzisse, o mundo soçobraria na incoerência e na confusão.”
                “Nossos homens de governo sentem já o que lhes custa viver numa sociedade em que as bases essenciais da moral estão abaladas, em que as sanções são factícias ou impotentes, em que tudo se funde, até a noção elementar do bem e do mal.”
                “A educação, sabe-se, é o mais poderoso fator do progresso, pois contém em gérmen todo o futuro. Mas, para ser completa, deve inspirar-se no estudo da vida sob suas duas formas alternantes, visível e invisível, em sua plenitude, em sua evolução ascendente para os cimos da natureza e do pensamento.”
                Decorridos, neste ano de 2011, cento e três anos das afirmações de Léon Denis, o mundo inteiro – França e Brasil no meio – evoluiu científica e tecnologicamente de maneira admirável. Na educação também houve avanços importantíssimos no que diz respeito à formação intelectual da juventude, restringindo-nos aqui apenas a Brasil e França. Ressalte-se, todavia, a abissal diferença em termos de qualidade do ensino existente entre estas duas nações, quando estamos anos-luz atrás da França. O Ministério da Educação de lá recebe a maior fatia do orçamento financeiro do país, nisso sobrepondo-se aos outros ministérios. Aqui no Brasil, a educação é tratada a pão e água e o seu Ministério é dirigido por pessoas de capacidade duvidosa.
                Se nos dois países houve evolução na instrução e na formação intelectual da juventude, o mesmo não se deu relativamente à sua formação moral e espiritual.         Lamentavelmente, nos dois aspectos, prevalece a mesma situação descrita por Léon Denis há cento e três anos. Pelo andar das coisas muitos trezentos e sessenta e cinco dias ainda terão que decorrer para que na educação da juventude o ensino caminhe de mãos dadas com a moral, a ética e o espiritualismo; o espiritualismo sem dogma, fundamentado na fé raciocinada e não na fé cega, pelo qual se reconheça a existência de um Ser soberana e infinitamente sábio, bom e justo – ao qual chamamos Deus - e que ensina ser o homem dotado duplamente de um corpo físico e de outro etéreo, imortal, ambos sujeitos à inflexível lei de causa e efeito emanada de um Criador Supremo.

Fortaleza, CE, junho de 2011.

Bibliografia:
– Léon Denis – FEB-21ª edição.

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