segunda-feira, 4 de abril de 2011

RELATÓRIO DA POLÍCIA FEDERAL TRAZ PROVAS INÉDITAS DO MENSALÃO

“Era uma vez, numa terra não tão distante, um governo que resolveu botar o Congresso no bolso. Para levar a cabo a operação, recorreu à varinha de condão de um lobista muito especial, que detinha os contatos, os meios e o capital inicial para fazer o serviço. Em contrapartida, o lobista ganharia contratos nesse mesmo governo, de modo a cobrir as despesas necessárias à compra. Ganharia também acesso irrestrito aos poderosos gabinetes de seu cliente, de maneira a abrir novas perspectivas de negócios. Fechou-se 

o acordo – e assim se fez: o lobista distribuiu ao menos R$ 55 milhões a dezenas de parlamentares da base aliada do governo. O governo reinou feliz para sempre.
(…)
Parecia que haveria um saudável processo de depuração ética em Brasília. Parecia. Os anos passaram, e a memória dos fatos esvaiu-se lentamente, carregada pelo esforço dos mesmos líderes petistas de reconfigurar o que acontecera através das lentes da má ficção. Dirceu começou a declarar que não houve compra de votos. Petistas disseram que o esquema não fazia sentido, uma vez que, como eram governistas, não precisariam receber dinheiro para votar com o governo – esquecendo que o valerioduto também contemplava o pagamento de campanhas políticas com dinheiro sujo. Delúbio Soares, o tesoureiro que coordenou os pagamentos, disse que tudo se tornaria piada de salão. Agora, obteve apoio para voltar ao partido, de onde fora expulso quando era conveniente a seus colegas. Por fim, quando estava prestes a terminar seu mandato, Lula avisou aos petistas: “O mensalão foi uma farsa. Vamos provar isso”.
São as voltas que o planeta político dá. Em Brasília, como se percebe, ele gira com especial rapidez. José Eduardo Cardozo agora é ministro da Justiça. Foi sob o comando dele que a Polícia Federal produziu sigilosamente um documento devastador, cujas 332 páginas resultam demolidoras para muitos dos próceres da República. Trata-se do relatório final da Polícia Federal sobre o caso do mensalão, que encerra oficialmente os seis anos de extensas investigações conduzidas por delegados, agentes e peritos especializados no combate ao crime organizado. A peça já está sobre a mesa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e deverá seguir em breve para o gabinete do ministro Joaquim Barbosa, o relator do caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Liderada pelo policial Luís Flávio Zampronha, delegado que coordena o caso desde o início e integra a divisão de Repressão a Crimes Financeiros, a PF vasculhou centenas de contas bancárias, esmiuçou dezenas de documentos internos das empresas envolvidas no esquema e ouviu cerca de 100 testemunhas. Produziu-se esse minucioso trabalho por determinação do ministro Joaquim Barbosa. O objetivo era produzir provas acerca dos pontos que não haviam sido contemplados nas investigações da CPI dos Correios e da Procuradoria-Geral da República. As dúvidas dividiam-se em três perguntas elementares:
1. O mensalão foi financiado com dinheiro público?
2. Houve mais beneficiários do valerioduto?
3. Qual era o limite da influência de Marcos Valério no governo petista?
A investigação da PF dissolve essas incertezas – e faz isso com muitas, muitas provas. A resposta às duas primeiras perguntas é sim, sem dúvida. A resposta à terceira? Nenhum. Não há mais argumentos falaciosos, teses descabidas ou teorias conspiratórias que permitam ignorar os fatos colhidos pela PF. Derrubam-se, assim, os mitos que setores do PT, sobretudo sob a liderança moral e simbólica do presidente Lula, tentaram impor à opinião pública. O mensalão não foi uma farsa. Não foi uma ficção. Não foi “algo feito sistematicamente no Brasil”, como chegou a dizer o ex-presidente. O mensalão, como já demonstravam as investigações da CPI dos Correios e do Ministério Público e agora se confirma cabalmente com o relatório da PF, consiste no mais amplo (cinco partidos, dezenas de parlamentares), mais complexo (centenas de contas bancárias, uso de doleiros, laranjas) e mais grave (compra maciça de apoio político no Congresso) esquema de corrupção já descoberto no país. O significado político e, sobretudo, simbólico do fim desse debate é enorme – e pode alterar os rumos do processo do mensalão no STF, que até o momento tendia para uma vagarosa morte jurídica.
(…)”
Íntegra da matéria aqui.
Comentário
Espera-se que agora, com este novo relatório, finalmente processem-se os réus antes da prescrição…





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3 comentários:

  1. O PIG, seus cúmplices, acólitos e paus-mandados (jornalistas abestalhados) estão em polvorosa com a divulgação da pesquisa CNI/IBOPE sobre a popularidade da presidenta Dilma: 73% de aprovação. Estão uma fera também com o imenso sucesso do ex-presidente Lula e com as sucessivas homenagens que ele está recebendo no exterior. Reservaram o fim de semana para expressar toda a sua ira. Requentaram o mensalão, que nunca foi mais do que o tão conhecido caixa 2 praticado por todos os partidos, neste caso abastecido por Marcos Valério, que começou a carreira no PSDB de MG. A Folha de São Paulo, está um primor e o Globo idem: matérias com críticas ao PAC, à Copa 2014, às Olimpíadas 2016, à economia, aos ministérios do governo Dilma. Além desse histerismo de más notícias prefabricadas sob encomenda, eles fazem comparações entre o governo Dilma e Lula, passando para o leitor a idéia que o governo Dilma, mesmo ruim, é melhor do que o governo Lula. É apenas uma maneira de atacar Lula, pelo temor de que Lula volte em 2014 ou 2018. A oposição está abobalhada com o resultado das pesquisas e resolveu partir para o ataque firme, diário. Vai até criar um tal Conselho Político para coordenar os ataques ao governo Dilma. Farão parte do tal conselho FHC, Serra, Aécio Neves, Sergio Guerra, Alckmin. Aécio disse que vai defender o governo FHC e suas privatizações. Então tá, essa gente do PSDB não tem propostas melhores para mostrar, não tem planejamento de governo melhor para apresentar, bateu no governo Lula, no presidente Lula, por 8 anos e perdeu para Lula pela terceira vez

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  2. Um dos princípios jornalísticos mais sagrados à velha mídia é o do gancho – ou seja, uma matéria sai quando tem algum fato novo que justifique sua publicação.
    Com poucas novidades, trata-se de um "cozidão". O lide da matéria está no pé.

    "As provas reunidas pela PF constituem a última esperança do ministro Joaquim Barbosa e da Procuradoria-Geral para que o Supremo condene os réus do mensalão. Nos últimos anos, as opiniões dos ministros do STF sobre o processo modularam-se ao ambiente político – que, sob a liderança simbólica e moral do ex-presidente Lula, fizeram o caso entrar num período de hibernação. Alguns ministros, que em 2007 votaram por acatar a denúncia do Ministério Público, agora comentam reservadamente que as condenações dependem de "mais provas". Hoje, portanto, o Supremo se dividiu. Não se sabe o desfecho do processo. Sabe-se apenas que, quanto mais tempo transcorrer, maior a chance de absolvição dos mensaleiros. Se isso acontecer, a previsão feita por Delúbio Soares, num passado não tão remoto, num país não tão distante, vai se materializar: o mensalão virará piada de salão. Será o retorno da ficção: era uma vez um país sério".

    É aí que a matéria se entrega. O que a matéria tem de novo, não é relevante; o que tem de relevante, não é novo. E isto faz toda a diferença.
    Segundo a revista, as informações constam do relatório adicional solicitado pelo Ministro Joaquim Barbosa à Polícia Federal.
    Há que se conferir melhor, mas as informações novas são as seguintes:
    1. O aparecimento de um filho de Marco Maciel na história.
    2. A inclusão da filha de Joaquim Roriz.
    3. A inclusão de Aécio Neves, em algo que não tem nenhum desdobramento maior: uma cota de patrocínio de um evento que existiu, aconteceu e foi pago. Um factóide.
    Todos os demais fatos, anunciados bombasticamente pela Época, são antigos e provavelmente já constam do inquérito inicial, que serviu de base para instruir o relatório de Joaquim Barbosa.

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  3. Novamente o telejornal auto-intitulado Jornal Nacional e a revista Época, ambos da organização mafiomidiática Rede Globo vêem requentar um assunto que remonta a 2005, quando estourou o "escândalo do mensalão", destinado a derrubar o então presidente Lula no seu primeiro mandato. Ocorre que este mesmo telejornal, através de seu âncora-chefe Willian Bonner, já insinuou que seu público-alvo seria uma espécie de "Homer Simpson da vida": Tosco, sem a capacidade de discernir uma notícia verdadeira de uma armação pueril.
    Pergunta: Por que a Globo não lembra que o valerioduto começou na gestão do tucano Eduardo Azeredo em MG ainda em 1998?
    O Homer ficaria feliz em saber e certamente seria menos tosco.

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