*Olavo de Carvalho
Os  termos em que o sr. Presidente da República apelou a José Serra,  pedindo-lhe que pare de tocar na ferida das ligações PT-Farc, são uma  obra-prima de tartufismo como raramente se viu na história do teatro  universal.
Em vez de negar peremptoriamente  que aquelas ligações existem – o que seria muito temerário, dada a  abundância de provas —, ele tentou sensibilizar o coração do candidato,  exigindo dele a omissão cúmplice que, na iminência da revelação de  crimes escabrosos, se esperaria de um velho companheiro de militância  para quem a solidariedade mafiosa deve estar, segundo os cânones da  moral presidencial, acima da verdade, acima do respeito aos eleitores,  acima dos interesses da pátria, acima do bem e do mal. 
A chantagem emocional é o mais  velho recurso dos patifes apanhados de calças na mão, mas o sr.  Presidente da República, mesmo sendo incapaz de abster-se desse golpe  baixo, poderia ao menos ter tido a decência de usá-lo em privado, em vez  de mostrar em público, uma vez mais, que não tem o menor senso de  moralidade.
O autor desse apelo abjeto assinou, em  2001, como presidente do Foro de São Paulo, um voto de solidariedade  integral às Farc e outras organizações criminosas, e deu provas em cima  de provas de que seu governo e seu partido vêm cumprindo o compromisso à  risca. Recusar-se a qualificar essas organizações como terroristas e  narcotraficantes, que é o que elas são com toda a evidência, já é prova  de solidariedade. Somem a isto as mobilizações políticas montadas  instantaneamente pelo PT e outras agremiações de esquerda para libertar  qualquer membro daquelas quadrilhas que seja preso no território  nacional; a participação de ministros do governo Lula na propaganda das  Farc através da revista América Libre; a contínua colaboração entre Farc  e PT na formulação da estratégia esquerdista continental através das  assembléias e grupos de trabalho do Foro de São Paulo; a recusa  obstinada de levar em consideração as descobertas do juiz federal Odilon  de Oliveira, que apresentou provas cabais da parceria entre as Farc e  quadrilhas locais de assassinos e seqüestradores (tornando-se por isso  virtualmente um prisioneiro, enquanto os acusados continuam à solta);  somem tudo isso e me digam se existe, além do instinto de autodefesa dos  envolvidos na tramóia, alguma razão para não falar de ligações entre PT  e Farc, entre PT e MIR, entre PT e ELN ou entre o PT e qualquer outra  organização pertencente ao Foro de São Paulo.                                              
Quanto ao próprio Foro, que, sob as  bênçãos do nosso partido governante, continua todo mês gastando quantias  consideráveis em viagens de centenas de seus membros entre as várias  capitais latino-americanas, o sr. Lula seria, mesmo quando ainda  candidato, o primeiro a ter a obrigação de esclarecer qual o estatuto  legal da entidade e de onde vem o dinheiro que a sustenta. Como ninguém  teve a coragem de lhe perguntar isso em 2002 nem em 2006, ele se sentiu  livre para não dizer nada. Com o tempo, a licença para silenciar, que  então lhe foi concedida como um favor pela polidez covarde dos seus  adversários, da mídia, das classes empresariais, dos militares e de  tutti quanti, tornou-se, na cabeça dele, um direito adquirido. É em nome  desse direito imaginário que ele agora exige dos candidatos  oposicionistas a gentileza da omissão cúmplice, mesmo quando essa  gentileza arrisque, uma vez mais, tirar das mãos deles a arma da verdade  e da justiça, a mais poderosa em qualquer eleição presidencial.
Está na hora de mostrar que esse  direito nunca existiu, exceto como conjunção momentânea de interesses  vis entre bandidos e poltrões.                 
Se  o PT insistir em querer processar o candidato vice-presidencial Índio  da Costa, o que este e José Serra têm a fazer para desmoralizar por  completo a fanfarronada petista é muito simples:                                                                                            
1.  Inserir no processo as atas completas das assembléias do Foro de São  Paulo, a lista dos membros da entidade e a coleção das revistas America  Libre. Isso já basta para comprovar a ligação que o PT desmente.
2. Inserir nos autos os dois discursos em que o sr. Lula reconhece, até com orgulho, o caráter secreto e clandestino das atividades do Foro de São Paulo.
3. Convocar o testemunho do juiz Federal Odilon de Oliveira, provando que o PT continuou a relacionar-se em bons termos com as Farc enquanto a Justiça Federal já tinha provas suficientes de que essa organização criminosa colaborava com quadrilhas locais empenhadas em matar cidadãos brasileiros a granel.
2. Inserir nos autos os dois discursos em que o sr. Lula reconhece, até com orgulho, o caráter secreto e clandestino das atividades do Foro de São Paulo.
3. Convocar o testemunho do juiz Federal Odilon de Oliveira, provando que o PT continuou a relacionar-se em bons termos com as Farc enquanto a Justiça Federal já tinha provas suficientes de que essa organização criminosa colaborava com quadrilhas locais empenhadas em matar cidadãos brasileiros a granel.
Façam isso e não apenas  vencerão o processo e as eleições: conquistarão a gratidão de todos os  brasileiros honrados.                                                             
* Filósofo, Escritor e Jornalista
Publicado no Diário do Comércio em 22/07
Publicado no Diário do Comércio em 22/07
Nenhum comentário:
Postar um comentário