domingo, 30 de janeiro de 2011

O QUE PENSAM OS DEPUTADOS NA NOVA CÂMARA?

      O Portal G1 fez uma pesquisa com os deputados que comporão a nova legislatura. O questionário indaga a opinião de cada um sobre temas que estão em debate na sociedade brasileira — alguns polêmicos, só tratáveis no âmbito de uma reforma constitucional. O G1 conseguiu falar com 446 dos 513 parlamentares, mas só 414 (81% do total) aceitaram responder as perguntas — 32 se recusaram, e 67 não quiseram nem falar com a reportagem. Os deputados foram ouvidos sobre descriminação do aborto, descriminação da maconha, voto em lista fechada e financiamento público de campanha, entre outras coisas. Há números preocupantes, como veremos nos próximos posts.
Clique em Mais informações e veja pesquisa completa

A religião dos parlamentares e o peso do voto evangélico

Segundo algumas pesquisas, os evangélicos já representam 25% dos brasileiros. Os católicos estariam pouco acima dos 60%. A pesquisa G1 quis saber a religião dos deputados que comporão a nova legislatura. Veja o resultado.
WebDos 414 que responderam, 309 (75%) se disseram católicos — ou 60% do total. Declararam-se evangélicos apenas 43 deputados, ou 10% dos pesquisados e 8% da Câmara. Preferiram se dizer apenas cristãos 13 deles, e 41 deram respostas diversas, incluindo religião nenhuma; 8 são espíritas.
Para que houvesse na Câmara uma representação proporcional ao suposto peso dos evangélicos na sociedade brasileira, seria preciso uma bancada de ao menos 128 deputados. Pelo menos 85 parlamentares dos 99 que não responderam a pesquisa — 86% — teriam de se declarar pertencentes a essa corrente, o que é praticamente impossível. O mais provável é que os membros do grupo que não aceitou responder se distribuam segundo o padrão verificado entre os pesquisados.
Duvido um pouco que os evangélicos sejam 25%, mas vá lá. Sendo verdade, os números apurados pelo G1 ajudam a diluir um mito: o de que eles sempre votam pautados por seus orientadores religiosos. É sabido que as igrejas evangélicas se organizam para eleger seus representantes com mais afinco e clareza do que os católicos. Boa parte do eleitorado evangélico, então, não levaria em consideração a denominação religiosa do candidato na hora de votar.
PS - É claro que a composição da Câmara abriga distorções que podem se refletir também na religião dos parlamentares. Estados como São Paulo e Rio estão sub-representados quando comparados, por exemplo, a Roraima, Amazonas ou Rondônia. Como há uma forte imbricação entre urbanização acelerada e desorganizada e crescimento da massa evangélica, parte de uma possível sub-representação religiosa pode ser  subproduto da sub-representação da população de São Paulo e Rio, por exemplo.
Por Reinaldo Azevedo

Mais opiniões: jornada de 40 horas, royalties do petróleo, fator previdenciário e telefonia

Maioria quer jornada de 40 horas
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Aprovam a divisão dos royalties do petróleo 368 deputados.
Nota: entre os que aprovam, 208 acham que o governo tem de compensar os estados produtores, e 160 não vêem necessidade de compensação nenhuma.
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Fim do fato previdenciário é popular na Câmara
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Maioria quer fim da cobrança por assinatura básica de telefonia
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Por Reinaldo Azevedo

Veja outras opiniões dos deputados: redução da maioridade penal, Lei da Palmada e bingos

Maioria favorável a plebiscito sobre redução da maioridade penal
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Lei da Palmada é rejeitada pelos deputados
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Deputados não querem legalização dos bingos
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Por Reinaldo Azevedo

CPMF ainda voltará ao debate; hoje, não passaria

Anotem aí o que Tio Rei está informando: o debate sobre a CPMF vai voltar. Hoje, segundo o levantamento feito pelo G1, não haveria chance de a proposta passar na Câmara. Nada, no entanto, que uma pressão bem-organizada do governo federal não consiga resolver. Lembrem-se que foi o Senado que derrubou a prorrogação do imposto. Se ninguém mudasse de idéia, não haveria como o governo conseguir os 308 votos necessários, já que 239 rejeitam a proposta — sobrariam apenas 274 votos. Favoráveis mesmo, por enquanto, apenas 142 dos que responderam.
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Por Reinaldo Azevedo

Piso nacional para policiais seria aprovado na Câmara

O G1 perguntou aos deputados: “É a favor da definição de piso nacional para policiais civis, militares e bombeiros?” Não está claro se a pergunta se refere à PEC 300, a proposta de emenda constitucional que equipara o piso salarial dos policiais de todos os estados ao do Distrito Federal, que é pago pelo Tesouro. A maioria quebraria. Mas a PEC oferece a resposta: o governo federal segura o espeto. Um dos entusiastas da idéia quando apenas deputado era Michel Temer, agora vice-presidente da República. Pelo visto, os governadores já podem ir botando as barbas de molho para arrancar a grana do Tesouro. Vejam o que responderam os parlamentares; já se ultrapassou com folga a maioria dos três quintos (308 votos).
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Por Reinaldo Azevedo

Não à descriminação da maconha. Mas é preciso cuidado!

A descriminação da maconha é ainda mais impopular na nova Câmara do que a do aborto — ótimo que seja rejeitada, mas o aborto me aprece coisa mais grave, não? Dizem “sim” à proposta apenas 63 parlamentares (15% dos 414 e 12% do total). Rejeitam a mudança 72% dos que responderam (298) — 58% do conjunto. Esse é um tema que exige permanente vigilância porque não depende de emenda constitucional — e não exige, pois, a maioria dos três quintos para  ser aprovado.
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Por Reinaldo Azevedo

Rejeição à descriminação do aborto é grande, mas menor do que na sociedade

O G1 quis saber também se os deputados da nova Câmara Federal são favoráveis à descriminação do aborto. Disseram-se contrários 267 parlamentares, 64% dos 414 que responderam a pesquisa — 52% do total. Plenamente favoráveis, apenas 19% dos pesquisados (78), ou 15% do conjunto, sempre lembrando que 99 não quiseram responder. Há um tal “em termos” ali (37), cujo significado é obscuro. Se os 267 que afirmam se opor à descriminação não mudarem de idéia, a proposta não prospera; os 246 votos restantes ficam longe dos 308 necessários. Veja quadro.
pesquisa-g1-abortoNão custa lembrar: segundo pesquisa Datafolha realizada em outubro, 71% dos brasileiros querem que a legislação do aborto fique como está — prática permitida apenas em caso de estupro e risco de morte da mãe. Aceitam ampliar os casos do aborto legal 11%, e só 7% se dizem favoráveis. Como se nota, há um certo descompasso entre representados e representantes: proporcionalmente, há mais pessoas simpáticas à descriminação na Câmara do que na sociedade. Eis um sinal de que o eleitor precisa inquirir mais os candidatos.
Por Reinaldo Azevedo

AINDA LONGE DA PICARETAGEM DO VOTO EM LISTA, MAS O RISCO É REAL

Este blog é favorável à aproximação entre representado e representante; acredita que o eleitor tem de dispor de mecanismos para vigiar de perto o eleito. Por isso, faz campanha em favor do voto distrital. Já os convidei e convido de novo a assinar uma petição em favor da proposta.
Pois bem. Muita gente no Brasil quer fazer o contrário: instituir o voto em lista fechada. É aquele mecanismo pelo qual o cidadão vota num partido — no máximo, há um “puxador de votos” — e acaba elegendo pessoas que foram postas na lista pelas burocracias partidárias. Se, no atual modelo, o eleitor já não se lembra em quem votou 15 dias depois do pleito, imaginem depois. Indagados a respeito, vejam o que responderam os deputados na pesquisa do G1:
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Nesse caso, o risco parece um pouco mais distante: só 42% (175) dos deputados que responderam a pesquisa se disseram favoráveis ao expediente — ou 34% do total. A campanha em favor da proposta, no entanto, ainda nem começou. É bom notar que as cúpulas partidárias acham a déia o “ó do borogodó”! Isso lhes confere ainda mais poder.
Ah, sim: Apedeutakoba já disse que gosta do voto em lista! Compreende-se: com esse sistema, um José Genoino, por exemplo, estaria brilhando na Câmara em vez de ter de arrumar uma boquinha com Nelson Jobim. Delúbio Soares se tornaria deputado sem que o eleitor precisasse lhe dar um único voto!
Por Reinaldo Azevedo

JÁ HÁ MAIORIA NA CÂMARA PARA ASSALTAR O SEU BOLSO, LEITOR ELEITOR!

Há anos se fala de uma reforma política no Brasil. Só pode ser aprovada por meio de emenda constitucional, que exige o apoio de três quintos da Câmara (308 votos) e três quintos no Senado (49 votos), em duas votações. O governo Dilma dispõe dessa maioria qualificada. Na ponta do lápis, aprovaria o que bem entendesse. Ainda bem que nem sempre o Parlamento marcha como ordem unida, segundo a vontade dos chefes partidários.
Há dois temas, no entanto, que têm seduzido a maioria dos políticos, por razões bastante óbvias: o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada. São duas picaretagens que atentam contra, respectivamente, os cofres públicos e os eleitores. Mas são influentes e seduzem muitos bobalhões que se dizem “progressistas”.
O G1 quis saber o que pensam os deputados sobre o financiamento público. Veja o resultado. Volto em seguida:
pesquisa-g1-financiamentoCaso a proposta seja apresentada, será facilmente aprovada, a menos que o tema ganhe as ruas —  e a rejeição do eleitorado. Note-se que 99 deputados deixaram de responder a pesquisa, 30 não sabem, e nada menos de 74 querem financiamento púbico e privado. Em suma: já existe a maioria necessária para tungar o seu bolso.
Os espertalhões querem mais dinheiro público nas eleições. Os partidos já custam bem uns R$ 600 milhões (fundo partidário mais custo do horário político grautito) ao ano quando não há eleição; quando há, a conta sobre por causa do horário eleitoral gratuito. NÃO HÁ UMA SÓ EVIDÊNCIA LÓGICA DE QUE O FINANCIAMENTO PÚBLICO PORIA FIM AO CAIXA DOIS. Ao contrário até: os recursos “não-contabilizados”, como diria Delúbio, deixariam de ser geridos por partidos e passariam a ser geridos pelos próprios candidatos. Aí, sim, eles passariam a ser uma espécie de funcionários do lobby que os sustenta— mais do que hoje. O caminho é outro. Ainda falarei a respeito.
O Babalorixá de Banânia, o Apedeutakoba, já anunciou que volta à ativa dentro de uns dois meses. Quer ser o animador de auditório da reforma política e se diz favorável ao financiamento público. Para Lula, coisas como o “mensalão”, que ele diz nem ter existido, são decorrência  do financiamento privado. É mentira! Decorrem da falta de vergonha na cara.
Por Reinaldo Azevedo

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