domingo, 7 de novembro de 2010

NORDESTINIDADE OU OPORTUNISMO?

          Bastou uma declaração infeliz no Twitter para que de repente aflorasse a nordestinidade, imaginem, entre os eleitores da Presidenta eleita, de todos recantos deste País. Digo isto porque sou nordestino e sei, que não passou de uma manifestação exacerbada de quem se encontra abalada emocionalmente por uma derrota eleitoral, mas que nem por isso deverá ser isentada do processo legal por discriminação étnica.
          Tomo a decisão de fazer esta abordagem tendo em vista o grande número de e-mails que recebo sobre o assunto, cada um com sentença pronta para a já condenada estudante por crime de xenofobia. É bom esclarecer que os dicionários nos ensinam que xenofobia é aversão a pessoas e coisas extrangeiras; nacionalismo extremado. Neste contexto cabe mais à Presidenta eleita a imputação de tal crime ao discorrer em gravação de programa sobre o romance de Graciliano Ramos: "Em Vida Secas, tá retratado todo o problema da miséria, da pobreza, da saída das pessoas do Nordeste pro Brasil", ou ainda quando afagava os nordestinos em seu site "Blog da Dilma" onde estampava na página principal: "Os nordestinos não são bestas como os paulistas".
          A verdade é que desde o final do século XIX os nordestinos são lembrados para as mais duras tarefas País afora. Foi assim na chamada febre da borracha na Amazônia a partir de 1870 onde desembarcaram mais de 160 mil nordestinos fugindo das secas. Pior ainda foi durante a segunda grande guerra onde jovens foram arrebatados de suas famílias compulsoriamente pelo exército e incorporados ao grupo dos chamados soldados da borracha. Em ambos os casos poucos voltaram à sua terra natal, tendo a grande maioria sido dizimada pela grande febre negra e outras doenças como a gripe, a varíola, o sarampo, a malária, a lepra e a tuberculose.
             Na metade do último século os nordestinos foram mais uma vez arregimentados para a construção da nova Capital, Brasilia, inaugurada em 1960. Já no final da década eram inciados os trabalhos de construção da ponte Rio-Niteroi onde se registrou grande número de mortos de origem nordestina.
          Pelo acima exposto fica claro que os nordestinos sempre foram chamados a fazer o "serviço pesado" e continua sendo assim, basta ver quem ocupa a maioria dos barracos da Rocinha, a maior favela da América Latina, que lá encontrará porteiro, zelador, faxineiro, doméstica, babá, pedreiro, servente, pião de obra, etc, quase todos nordestinos.
          Se não é verdade a afirmação de que os nordestinos foram "fisgados pelo estômago" que me expliquem porque a mídia exibe manchetes "Nordeste fez campanha mais cara entre as regiões brasileiras" e em particular o estado do Ceará que contribuiu para a campanha vitoriosa com 77% dos votos dos seus eleitores e o governo somente no 1º turno registrou gastos superiores ao dobro dos seus adversários.
          Que procurem diminuir estas desigualdades que saltam aos olhos de qualquer um com práticas e não com demagogia, tentando esconder o que é cantado em verso e prosa, inclusive por nordestinos famosos como Elna Ramalho, em Nordeste Independente:  

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
          
  Por Areton 
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