Muito resisti para não ser mais um a pronunciar-se publicamente sobre a campanha eleitoral que se encerrou. Porém, resolvi não deixar passar in albis meu protesto contra condutas ...
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abusivas de desconhecidos que a todo instante utilizavam a internet para invadir nossos computadores difundindo mensagens atentadoras da dignidade da pessoa humana, máxime em relação a então candidata Dilma Rousseft.
Descobri que essa atuação estranha tratava-se de uma estratégia de marketing do candidato José Serra que apostou na internet como arma eficaz para difundir suas mensagens e nocautear a candidatura Dilma, a qualquer custo. E o que é pior: essas mensagens foram calculadamente articuladas e tinham o propósito incutir nas mentes incautas as suas essências dissimuladas de civismo e nobreza.
Ocorre que, essa estratégia do mau combate não ajudou em nada ao candidato Serra. Pelo contrário, eivada de maus propósitos promoveu a fulanização preconceituosa e desclassificada do debate, em detrimento dos grandes temas de interesse nacional que poderiam ter sido aventados para que o povo pudesse, pelo menos desta feita, julgar as candidaturas com base em proposições e em ideais transformadores.
Mas, ainda não foi desta vez que o povo escolheu o seu representante tendo como lastro as suas propostas. Sorrateiramente o livre arbítrio popular foi conspurcado pelos métodos e mensagens maquiados pelos chamados marketings, que procuraram de todas as formas escamotear verdades criando factóides, difamando, desrespeitando, mentindo, tudo levado a efeito com extremada carga de preconceito, sobretudo para desmerecer à condição feminina.
O espírito emulativo parece haver desbordado de qualquer razoabilidade e embotado as mentes desses artífices do desserviço à democracia, ao ponto de não lhes permitir discernir o que era bom ou mal para a promoção do candidato que defendiam. A bolinha de papel que levou Serra ao hospital não só foi hilário como surrealista; de tal forma ridículo respingará negativamente no seu conceito político, porque se aquele homem marcado pelo perfil da seriedade, que nem ri aprendeu, de repente se presta a uma presepada desse nível era porque estava pedindo para integrar o chamado folclore político.
Noutra dimensão, não menos insincero foi a forma como voltou à ordem do dia o tema do aborto. Manipulando claramente o assunto o marketing serrista banalizou-o ao atribuir a candidata Dilma posição favorável à legalização, e nada mais. Não demorou muito para se perceber que ali residia o exemplo clássico do apelo eleitoreiro, envolvendo um tema que transcende valores existenciais para alcançar mesmo à religiosidade das pessoas, não podendo sua inserção no contexto institucional ser obra de uma vontade individual, por mais poderosa que possa ou queira ser.
A propósito, a lógica que animou esse debate, além de eminentemente eleitoreira foi por demais perversa, porque desprezou a condição das crianças que nascem, mas não sobrevivem em decorrência da miséria a que são submetidas. Estas, olvidadas, não foram objeto sequer de preocupação dos religiosos que na verdade se aproveitaram do ensejo muito mais para afirmar a posição política de suas igrejas do que pugnar pela defesa da vida propriamente dita.
A conclusão disto, pelos debates inflamados pela mídia, é que as vidas ameaçadas pelo aborto merecem toda atenção, mas as crianças que nascem na miséria e que por isso não sobrevivem, podem continuar indo para o cadafalso porque o importante é afirmar a não legalização do aborto. Mas, por mal perguntar qual a campanha que os internautas levaram a efeito em prol salvação dos milhares de crianças que morrem ano após ano sufocadas pela fome e pelo abandono?
Enfim, utilizando-se da internet para vender agressões e maquiar fatos os indesejados os internautas não contribuíram em nada para o processo democrático. Pelo contrário, empobreceram-no. Deixaram de propugnar por um novo pacto da relação capital/trabalho com vistas a promover à justiça social. Deixaram, igualmente, de realçar temas como a inserção do Brasil na dinâmica dos mercados internacionais, o Brasil ante a correlação de força que emoldura a situação dos países desenvolvidos e emergentes, a soberania nacional em face da Amazônia (esse até que abordado discretamente), contribuição com propostas concretas para os problemas que mais afligem à sociedade brasileira como a saúde, a segurança e a educação, sobretudo esta última. A reforma agrária do governo Lula e a efetividade do Direito como instrumento de defesa para a preservação do meio ambiente, muita norma e pouca ação, tudo passou ao largo das mensagens virtuais.
Por tudo isto, diz-se que esses internautas venderam a própria alma para enganar e conquistar a alma alheia. Deram-se mal. A consciência crítica mediana foi capaz de detectar que naquele marketing estavam subjacentes valores negativos incompatíveis com a legitimidade do processo democrático e com a condição humana. Focaram na pessoa da candidata Dilma com o propósito de desmerecê-la a qualquer custo, mas olvidaram das propostas do candidato que defendiam. Em razão disto, o povo soberanamente rejeitou aquele projeto político, tão emocionalmente defendido, quanto propositadamente dissimulado.
(*)Procurador do Estado, membro da Academia de Letras Jurídicas do RN, Professor
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É com muito prazer que posto artigo de um conterrâneo ilustre como o Dr. Sales Matos. No entanto, não me contive de fazer este comentário sobre algumas colocações do texto. Nota-se a sua simpatia pela candidata eleita, o que é absoilutamente noraml, mas ignorar fatos concretos como o ataque sofrido pelo candidato Serra, minimizando e ironizando ao descrever "a bolinha de papel que levou Serra ao hospital", esquecendo que a bolinha foi apenas mais uma agressão que por não ter poder de ferir fisicamente não deixa de ser uma agressão pela intenção, assim como a daquela moça que está sendo usada como cavalo de batalha por uma infeliz manifestação contra os nordestinos à qual sou contra, a mim, com todo respeito, soa como um equívoco para não dizer desonestidade intelectual. Com relação ao aborto, não entro no mérito, mas não podemos esconder que estava grafado em seu programa de governo e que pela repercussão negativa, foi retirado e até negado pela candidata. Não tendo saída, pela divulgação do documento pela imprensa, ela optou por dizer que havia assinado-o sem ler. Quanto à crítica aos religiosos que, na sua ótica, não tiveram a devida preocupação com as crianças que nascem e não sobrevivem, lembro que a questão levantada pelos bispos é dogmática e não de saúde pública como deve ser tratada a mortalidade infantil. Com referência a má utilização da internet fica difícil, até pela sua dimensão e complexidade, estabelecer que lado iniciou ou usou mais desse expediente haja vista que até no sítio oficial da candidata Dilma havia frase discriminatória que dizia: "Os nordestinos não são bestas como os paulistas" ou em programa de televisão quando a mesma afirmara "quando os nordestino vierem ao Brasil...". Em relação a afirmação de que eleitores do Serra venderam sua alma, como está bem clara, trata-se de uma constatação própria, assim como outros afirmam que os nordestinos foram "fisgados" pelo estômago face a expressiva votação que os mesmos deram à candidata que obteve, aqui, 10,7 dos 12 milhões milhões que obtivera de maioria sobre o candidato Serra. Por fim reafirmo meu respeito e meu orgulho do conterrâneo que tão bem nos representa no vizinho estado, lembrando que eventuais divergências de opinião são compactuadas com 57 milhões de eleitores que não votaram em Dilma, dentre eles muitas figuras igualmente importantes.
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