A década era 60 e sob a égide do regime militar. Nos municípios de pequeno porte do Ceará questões menores eram resolvidas a nível administrativo dado o grande poder que detinham os administradores municipais. Aquelas consideradas de maior gravidade ficavam a cargo da Polícia, esta geralmente comandada por um delegado civil nomeado pior indicação política, quando muito por um policial militar. Foi neste ambiente que se desenvolveu a trágica história que levo ao conhecimento dos meus leitores.
Também comum era o recrutamento de meninas pobres para os afazeres domésticos nas residências de famílias mais abastadas, geralmente localizadas nas principais ruas do centro, preferencialmente nas proximidades da Igreja Matriz, local utilizado por estas meninas nos horários de folga para encontros com amigas e principalmente com os namorados.
Vale ressaltar que a grande maioria era oriunda da zona rural, com pouca ou nenhuma escolaridade que encontravam neste ofício uma oportunidade de fugir do trabalho árduo do campo e da miséria reinante nos seus lares. Contudo, traziam na sua formação os ensinamentos básicos transmitidos pelos pais e até uma inocência própria daqueles tempos no que diz respeito à sexualidade.
Inseridas neste novo contexto social passavam a conviver com outro tipo de segregado social oriundo dos bairros periféricos, porém com vasta experiência no trato com as mulheres e que ali acorriam em busca de aventuras amorosas. Levados pelos arroubos da juventude não raro surgiam situações de disputa amorosa e até mesmo de excessos de comportamentos que chamavam a atenção dos moradores em volta. Com isso era comum a presença da polícia em rondas para coibir tais práticas.
Como era de se esperar nosso personagem, com dotes físicos atraentes, não tardou a se tornar mais uma vítima de um Dom Juan. Era prática àquela época, após consumado o propósito, a vítima era abandonada e passada a informação para um companheiro que se aproximava e também conseguia seu intento e, a partir daí, segundo o costume da época, estava descaracterizado o crime perpetrado pelo primeiro.
Dentro da polícia, como em toda corporação e em todos os tempos, existiam policiais que procuravam aquelas que sabiam estar praticando atos que, segundo as regras vigentes não eram permitidas a quem convivia no seio da sociedade, tirando proveito próprio ou, em caso de recusa, fichando-a e encaminhando-a a um prostíbulo.
Foi desta forma que uma menina doce, ingênua e até poderia chamar inocente chegou a um cabaré onde, por algum tempo, não passou fome porque colegas lhe proviam a comida visto que não tinha sequer atitude de cobrar pelas visitas que recebia.
Finalizo esta narrativa com a parte pior da história: a última informação que obtive sobre a mesma é que ela estaria vivendo com um bandido de alta periculosidade em município da região e que teria se tornado tão perigosa quanto ele.
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