O Brasil reduziu a desigualdade e tirou milhões de pessoas da pobreza nos últimos anos, mas ainda não é um país predominantemente de classe média, sugere um relatório divulgado ontem pelo Banco Mundial (Bird). A maior parte da população está numa zona cinzenta chamada de "vulneráveis". O grupo tem alto risco de retroceder na escala social. Pelo critério adotado pelo Banco Mundial, 28% da população brasileira é de pobres, 32% é da classe média e 38% são os vulneráveis. Cerca de 3% pertence às classes altas (a soma dos percentuais dá mais de 100% por causa de arredondamentos). Os vulneráveis são as pessoas que têm risco maior de 10% de cair na pobreza nos próximos cinco anos.
Com o título " Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média Latino-Americana", o relatório divulgado ontem pelo presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, desafia outros estudos recentes que afirmam que a maioria da população brasileira pertence à classe média. O Brasil está numa situação semelhante a outros países da América Latina. Na região, 30% são classe média, 30% são pobres, 38% são vulneráveis e 2% são classe alta. Pelo critério usado pelo Bird, pobres são aqueles que ganham menos de US$ 4 por dia. Classe média é quem ganha de US$ 10 a US$ 50. O grupo na faixa entre US$ 4 e US$ 10 é o dos vulneráveis. Quem ganha mais de US$ 50 é classe alta.
O Bird reconhece que não há um critério único para definir a classe média. Num quadro do relatório que discute o Brasil, o banco compara a sua metodologia com presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, um dos maiores especialistas no assunto do país.
Neri divide a população brasileira em cinco classes - a mais rica é a A, e a mais pobre, a E. Por esse critério, a classe do meio, a C, representa mais de 50% da população e inclui pessoas que ganham entre US$ 6 e US$ 26 por dia. Assim, a classe C definida por Neri engloba pedaços do que o Bird chama de classe média e de vulneráveis.
Para chegar ao valor acima de US$ 10 que define a classe média, o relatório do Bird usa um estudo dos economistas Luis López-Calva e Eduardo Ortiz-Juarez, que conclui que quem ganha abaixo desse valor está mais sujeito a cair abaixo da linha de pobreza, definida em US$ 4 por dia. Quem ganha mais de US$ 10 tem apenas 10% de chances de cair na pobreza nos cinco anos seguintes. Quem ganha US$ 6 por dia tem cerca de 30% de chances de se tornar pobre.
Apesar de desafiar a noção de que a América Latina é majoritariamente de classe média, o Bird reconhece os surpreendentes avanços ocorridos na região. "A América Latina é um exemplo de como sólidas políticas podem fazer diferença", disse o presidente do Bird, Jim Yong Kim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário