sábado, 5 de novembro de 2011

O BRASIL E A SUA DEGRADAÇÃO ÉTICO-MORAL




Por José Estênio Gomes Negreiros

A sociedade brasileira vive uma crise de amoralidade sem precedentes na nossa história. Tanto o cidadão comum, que transita na mais baixa classe social, quanto o ilustre homem pertencente ao mais alto degrau da escada econômica, financeira e política é tragado pelo desvirtuamento moral de seus caracteres. Enquanto os costumes sociais se aviltam, a criminalidade se avoluma a cada hora e a corrupção campeia desenfreada, nós, fios do tecido social da Nação, assistimos a tudo, 


passivamente, com cara de paisagem, como se tudo fosse absolutamente normal.
Se remontarmos ao nosso passado histórico certamente depararemos com fatos que comprovam a degeneração da nossa organização coletiva desde os tempos do Brasil - Colônia. Mas certamente, em nenhum período dos nossos quinhentos e onze anos de existência enquanto nação, chegamos ao ponto de tanta degradação ético-moral como nos dias de hoje.
A decomposição do caráter social verticalizou-se de cima para baixo. Aqueles a quem, de princípio, pertence a responsabilidade de governar, legislar e fazer cumprir as leis são os vanguardeiros no darem péssimos exemplos com suas ações e atitudes reprocháveis que mandam às favas quaisquer procedimentos que exigem respeito às regras da ética e da moral no âmbito público e privado, valendo-se dos fundamentos da conhecida , que prega o “levar vantagem em tudo”, sempre confiantes na impunidade e na parcialidade da Justiça que na mais das vezes posiciona-se sempre do lado dos mais fortes. E se o mau exemplo vem “de cima”, dos áulicos, da nobreza, dos soberanos, que interpretação pode dar o homem comum, com pendores para desvios morais, do proceder daqueles que dirigem os destinos do País? Naturalmente se apropriará da conhecida frase do Barão de Itararé: "Ou se instaura de vez a moralidade, ou nos loclupetemos todos". Então, vamos também infringir as regras do jogo – dirá o cidadão comum -, confiante na impunidade estimulada pela pusilanimidade moral daqueles responsáveis pela aplicação justa da lei.
O que nos desalenta é vermos que, os representantes dos três Poderes da República, nos níveis federal estadual e municipal (a cada mandato mais apequenados, no sentido moral e ético) e que são os guardiões da coisa pública, amiudadamente se equivocam no cumprimento dos seus deveres constitucionais, agindo em benefício próprio ou de seus grupos de interesses em detrimento do benefício popular, quando então perpetram atos de corrupção desenfreada e de injustiça mordaz.
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Esta famosa citação é um trecho do discurso pronunciado por Rui Barbosa (1849-1923) no Senado Federal, no Rio de Janeiro, DF, em sessão de 17 de dezembro de 1914. Se algum leitor desavisado e ignorante dela lesse esta passagem sem as devidas informações da fonte e da data em que ela foi pronunciada, certamente entenderia que ela se refere ao momento presente do nosso País, tal é a similitude entre as situações de desleixo moral daqueles tempos e que ainda hoje prevalecem, parece-me, com mais força e visibilidade.
Desilude-nos mais ainda o não se vislumbrar, nem mesmo num longo prazo, uma alteração para melhor deste estado de lassidão do conjunto de regras de conduta que prevalece em nossa Nação. Isto porque assistimos o desenvolver de gerações despreocupadas, destituídas dos valores da decência e da integridade, sem princípio ético, preocupadas tão-somente com os benefícios materiais que o desenvolvimento tecnológico produz, inebriadas pelo império das coisas materiais, dos prazeres desequilibrados; estimuladas pelo egoísmo, pela vaidade e pelos apetites sensuais, o Mamon a que se referiu Jesus (Lucas, cap. XVI, v. 13), em prejuízo do saber e da educação cívica e moral-religiosa que ilumina e enriquece o Espírito.
Resta-nos, felizmente, a esperança que se fundamenta nos Princípios Divinos de que o inexorável destino da Humanidade terrena é o avanço, o progresso, em todos os sentidos. O nosso progresso intelectual se tem feito velozmente, enquanto o progresso moral, lamentavelmente, não lhe acompanha os passos.
Por intermédio de Allan Kardec e dos médiuns que o auxiliaram na Codificação da Doutrina Espírita, os Espíritos Superiores ensinam ( - capítulo VIII-A Lei do Progresso - Item II.A Marcha do Progresso, Questão 780) que o progresso moral é uma consequência do progresso intelectual, embora o primeiro não siga imediatamente o segundo. No mesmo espaço, na Questão 780-B, Kardec pergunta: “Como é, então, que os povos mais esclarecidos são, por vezes, os mais pervertidos?” Em resposta lhe dizem os Espíritos Superiores: “O progresso completo é o fim; mas os povos, como os indivíduos, só chegam passo a passo. Até que neles se desenvolva o senso moral, podem mesmo servir-se da inteligência para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que só se equilibram com o tempo.”
Estamos, de fato, neste estádio da conjuntura nacional, testemunhando atitudes de irmãos nossos, em todos os estratos sociais e nos poderes constitucionais , que se utilizam de suas inteligências para a prática de atos que ferem a moral, a ética e a Justiça em prejuízo de toda a sociedade.
Finalizamos, destacando os seguintes trechos contidos no livro , de Allan Kardec, publicado em janeiro de 1890, em Paris, França, e que bem se encaixam no cenário sócio-político do Brasil de hoje:
“Os males da Humanidade vêm da imperfeição dos homens; é pelos seus vícios que se prejudicam uns aos outros. Enquanto os homens forem viciosos, serão infelizes, por que a luta dos interesses engendra, sem cessar, misérias.
Boas leis contribuem, sem dúvida, para a melhoria do estado social, mas são impotentes para assegurar a felicidade da Humanidade, porque não fazem senão comprimir as más paixões, sem aniquilá-las; em segundo lugar, porque são mais repressivas do que moralizadoras, e elas não reprimem senão os atos maus mais salientes, sem destruir a causa. Aliás, a bondade das leis está em razão da bondade dos homens; enquanto estes estiverem dominados pelo orgulho e pelo egoísmo, farão leis em proveito das ambições pessoais. A lei civil não modifica senão a superfície; só a lei moral pode penetrar o foro interior da consciência e reformá-lo.
Estando, pois, admitido que é a contusão causada pelo contato dos vícios que torna os homens infelizes, o único remédio para os seus males está no seu aperfeiçoamento moral. Uma vez que as imperfeições são a fonte dos males, a felicidade aumentará à medida que as imperfeições diminuírem.
Por boa que seja uma instituição social, se os homens são maus, falseá-la-ão e lhe desnaturarão o espírito para explorá-la em seu proveito. Quando os homens forem bons, farão boas instituições e elas serão duráveis, porque todos terão interesse em sua conservação.
A questão social não tem, portanto, o seu ponto de partida na forma de tal ou tal instituição; está inteiramente no aperfeiçoamento moral dos indivíduos e das massas. Aí está o princípio, a verdadeira chave da felicidade da Humanidade, porque então os homens não pensarão mais em se prejudicarem uns aos outros. Não basta colocar um verniz sobre a corrupção, é a corrupção que é preciso extinguir.
O princípio do aperfeiçoamento está na natureza das crenças, porque as crenças são o móvel das ações e modificam os sentimentos; está também nas idéias inculcadas desde a infância e identificadas com o Espírito, e nas idéias que o desenvolvimento ulterior da inteligência e da razão podem fortificar, e não destruir. Será pela educação, mais ainda do que pela instrução, que se transformará a Humanidade.
(…) O progresso geral é a resultante de todos os progressos individuais; mas o progresso individual não consiste somente no desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos; isso não é senão uma parte do progresso, e que não conduz necessariamente ao bem, uma vez que se vêem homens fazerem muito mau uso de seu saber; consiste, sobretudo, no aperfeiçoamento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos maus germes que existem em nós; aí está o verdadeiro progresso, o único que pode assegurar a felicidade da Humanidade, porque é a própria negação do mal. O homem mais avançado em inteligência pode fazer muito mal; aquele que é avançado moralmente, não fará senão o bem. Há, pois, interesse para todos no progresso moral da Humanidade.”

Fortaleza, CE, julho de 2011.

Publicado na página http://www.cairbar.com.br (Editorial Mensal), em agosto de 2011.




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Estênio Negreiros
Fortaleza,CE
"As leis são como as teias de aranha; os pequenos insetos prendem-se nelas, e os grandes rasgam-nas sem custo”. (Anacaris, sábio grego, da Antiguidade)

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