sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PÉROLAS DO ESTÊNIO


-A VIDA FORA DO BRASIL-

Como a classe média alta brasileira é escrava do “alto padrão” dos supérfluos

   Por Adriana Setti

   No ano passado, meus pais (profissionais ultra-bem-sucedidos quedecidiram reduzir o ritmo em tempo de aproveitar a vida com alegria esaúde) tomaram uma decisão surpreendente para um casal – muito enxuto,diga-se – de mais de 60 anos: 
alugaram o apartamento em um bairronobre de São Paulo a um parente, enfiaram algumas peças de roupa namala e embarcaram para Barcelona, onde meu irmão e eu moramos, parauma espécie de ano sabático.   Aqui na capital catalã, os dois alugaram um apartamentoagradabilíssimo no bairro modernista do Eixample (mas com um terço dotamanho e um vigésimo do conforto do de São Paulo), com direito alimpeza de apenas algumas horas, uma vez por semana. Como nuncacozinharam para si mesmos, saíam todos os dias para almoçar e/oujantar. Com tempo de sobra, devoraram o calendário cultural da cidade:shows, peças de teatro, cinema e ópera quase diariamente. Tambémviajaram um pouco pela Espanha e a Europa. E tudo isso, muitas vezes,na companhia de filhos, genro, nora e amigos, a quem proporcionaramincontáveis jantares regados a vinhos.   Com o passar de alguns meses, meus pais fizeram uma constataçãoque beirava o inacreditável: estavam gastando muito menos mensalmentepara viver aqui do que gastavam no Brasil. Sendo que em São Paulosaíam para comer fora ou para algum programa cultural só de vez emquando (por causa do trânsito, dos problemas de segurança, etc),moravam em apartamento próprio e quase nunca viajavam.   Milagre? Não. O que acontece é que, ao contrário do que fazem amaioria dos pais, eles resolveram experimentar o modelo de vida dosfilhos em benefício próprio. “Quero uma vida mais simples como a sua”,me disse um dia a minha mãe. Isso, nesse caso, significou deixar delado o altíssimo padrão de vida de classe média alta paulistana paraadotar, como “estagiários”, o padrão de vida – mais austero e justo –da classe média europeia, da qual eu e meu irmão fazemos parte hoje emdia (eu há dez anos e ele, quatro). O dinheiro que “sobrou” aplicaramem coisas prazerosas e gratificantes.   Do outro lado do Atlântico, a coisa é bem diferente. A classemédia europeia não está acostumada com a moleza. Toda pessoa normalque se preze esfria a barriga no tanque e a esquenta no fogão, caminhaaté a padaria para comprar o seu próprio pão e enche o tanque degasolina com as próprias mãos. É o preço que se paga por conviver comalgo totalmente desconhecido no nosso país: a ausência do absurdoabismo social e, portanto, da mão de obra barata e disponível paraqualquer necessidade do dia a dia.   Traduzindo essa teoria na experiência vivida por meus pais, elesreaprenderam (uma vez que nenhum deles vem de família rica, muito pelocontrário) a dar uma limpada na casa nos intervalos do dia da faxina,a usar o transporte público e as próprias pernas, a lavar a própriaroupa, a não ter carro (e manobrista, e garagem, e seguro), enfim, alevar uma vida mais “sustentável”. Não doeu nada.   Uma vez de volta ao Brasil, eles simplificaram a estrutura que oscercava, cortaram uma lista enorme de itens supérfluos, reduziramassim os custos fixos e, mais leves,  tornaram-se mais portáteis (esteano, por exemplo, passaram mais três meses por aqui, num apê aindamais simples).   Por que estou contando isso a vocês? Porque o resultado desseexperimento quase científico feito pelos pais é a prova concreta deuma teoria que defendo em muitas conversas com amigos brasileiros: onababesco padrão de vida almejado por parte da classe média altabrasileira (que um europeu relutaria em adotar até por uma questão deprincípios) acaba gerando stress, amarras e muita complicação comoefeitos colaterais. E isso sem falar na questão moral e social dacoisa.   Babás, empregadas, carro extra em São Paulo para o dia do rodízio(essa é de lascar!), casa na praia, móveis caríssimos e roupas demarca podem ser o sonho de qualquer um, claro (não é o meu, mas quemsou eu para discutir?). Só que, mesmo em quem se delicia com essascoisas, a obrigação auto-imposta de manter tudo isso – e administraressa estrutura que acaba se tornando cada vez maior e complexa – acabafazendo com que o conforto se transforme em escravidão sem que a“vítima” se dê conta disso. E tem muita gente que aceita qualquercontingência num emprego malfadado, apenas para não perder asmordomias da vida.   Alguns amigos paulistanos não se conformam com a quantidade deviagens que faço por ano (no último ano foram quatro meses – graçastambém, é claro, à minha vida de freelancer). “Você está milionária?”,me perguntam eles, que têm sofás (em L, óbvio) comprados na AlamedaGabriel Monteiro da Silva, TV LED último modelo e o carro do ano(enquanto mal têm tempo de usufruir tudo isso, de tanto que ralam paramanter o padrão).   É muito mais simples do que parece. Limpo o meu próprio banheiro,não estou nem aí para roupas de marca e tenho algumas manchas no meusofá baratex. Antes isso do que a escravidão de um padrão de vida quenão traz felicidade. Ou, pelo menos, não a minha. Essa foi a maiorlição que aprendi com os europeus — que viajam mais do que ninguém,são mestres na arte do savoir vivre e sabem muito bem como pilotar umfogão e uma vassoura.   PS: Não estou pregando a morte das empregadas domésticas – queprecisam do emprego no Brasil –, a queima dos sofás em L e nem achandoque o “modelo frugal europeu” funciona para todo mundo como receita defelicidade. Antes que alguém me acuse de tomar o comportamento de umaparcela da classe média alta paulistana como uma generalização sobre asociedade brasileira, digo logo que, sim, esse texto se aplica ao péda letra para um público bem específico. Também entendo perfeitamenteque a vida não é tão “boa” para todos no Brasil, e que o “problema”que levanto aqui pode até soar ridículo para alguns – por ser menor.Minha intenção, com esse texto, é apenas tentar mostrar que a vidasempre pode ser menos complicada e mais racional do que imaginam aselites mal-acostumadas no Brasil.

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Governo de gente baixa.
Lá é tudo bandido, brada um irmão de senador, ao ser demitido de uma empresa pública por maracutaia, acusando diretamente o Ministro da Agricultura. Aquela ministra é muito fraquinha, declara o Ministro da Defesa, ofendendo a Ministra de Relações Institucionais com quem tem desavenças. Eu não sou lixo, discursa o Ministro dos Transportes demitido por corrupção. É baixaria em cima de baixaria no governo do PT. O mundo em crise e essa bagaceirada dando o maior espetáculo de baixo nível da história deste país. É desanimador ter que conviver debaixo

do mesmo céu azul anil do meu Brasil com gente tão baixa.


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Tribuna da Imprensa, de sexta-feira, 05 de agosto de 2011 | 05:10
Era só o que faltava. Temos um procurador-geral da República que decididamente não conhece as leis. Revogou o Código Penal e a Lei de Improbidade, e não avisou a ninguém.
Inacreditável Ao ser sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, para ser reintegrado ao cargo de procurador-geral da República, Roberto Gurgel deu uma grotesca demonstração de favorecimento jurídico, causada por sua ânsia de agradar ao Planalto para ser mantido na função.

 Segundo ele, para que fosse possível pedir a quebra de sigilo bancário do então ministro Antonio Palocci, era necessário ter mais provas ou indícios de crimes. “O que sustentei essencialmente foi que a lei penal não tipifica como crime a incompatibilidade entre o patrimônio e a renda declarada”, disse Gurgel, acrescentando: “Mas, no caso específico, não havia qualquer indício que a renda tivesse sido advinda de crimes”, alegou o procurador. “Sequer se podia cogitar de crime de sonegação fiscal já que os valores tinham sido declarados. Não tínhamos elementos mínimos que permitissem a continuidade das investigações.”

Quer dizer que o velho tráfico de influência (art.332) foi revogado do Código Penal e ninguém nos avisou. Será que a revogação teria ocorrido devido à recente criação do Código de Conduta Ética do governador Sergio Cabral, aquele que até então não sabia o que era certo ou errado? É possível. Aliás, tudo é mais do que possível na política brasileira.

Como se sabe, tráfico de influência consistia na prática ilegal de uma pessoa se aproveitar da sua posição privilegiada dentro de uma empresa ou entidade, ou das suas conexões com pessoas em posição de autoridade, para obter favores ou benefícios para terceiros, geralmente em troca de vantagem ou pagamento.

Era um dos crimes praticados por empresários e políticos, principalmente contra a administração pública em geral, por solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função. A pena prevista para esse crime era de reclusão, de 2 a 5 anos, e multa, aumentada da metade, se o agente alegava ou insinuava que a vantagem era também destinada ao funcionário.

Também a Lei 8.429 (Improbidade Administrativa), de 2 de junho de 1992, foi revogada pelo diligente procurador-geral da República, sem avisar a ninguém? Era aquela que dispunha sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dava outras providências.

Mas que país é esse, Francelino Pereira, onde o procurador-geral da República não respeita minimamente as leis, e o Senado, mesmo assim, o reconduz ao cargo?

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A “BURRICE” DO PROCURADOR

O pior da sabatina foi ver Gurgel dizer que teria sido “uma burrice” arquivar as investigações contra Palocci apenas para conseguir sua recondução ao cargo. “Teria sido uma canalhice imensa [arquivar as investigações] para agradar a um ministro que já estava na porta de saída.”

Como se sabe, Gurgel foi criticado por ter livrado Palocci de investigação depois que a Folha revelou, em maio, a multiplicação do patrimônio do então ministro da Casa Civil. A espantosa decisão do procurador foi usada por Palocci em sua defesa, mas o ministro acabou caindo mesmo assim.

Pelos bons serviços prestados, Gurgel foi indicado pela presidente Dilma Rousseff para mais dois anos no comando do Ministério Público Federal. Ele está no cargo desde 2009 e agora, já aprovado pelo Senado,  continuará como procurador-geral até 2013, tenha a santa paciência.



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Ruth de Aquino

RUTH DE AQUINO
é colunista de ÉPOCA
raquino@edglobo.com.br
Estou com pena dos juízes. Seus 60 dias de férias anuais podem ser reduzidos à metade. É uma maldade com os meritíssimos. O tratamento cerimonioso vem da palavra mérito. Os juízes estão acostumados aos superlativos. Digníssimo, excelentíssimo. Os salários e os benefícios do Judiciário também são superlativos. Quando um juiz é afastado por um abuso, é “punido” com aposentadoria integral. Na semana passada, o direito dos magistrados a férias em dobro foi ameaçado.

Quem comprou a briga foi o presidente do STF, Cezar Peluso. Em entrevista ao jornal O Globo, ele defendeu a redução das férias – ou melhor, a “equiparação” do descanso dos juízes ao de todos os assalariados brasileiros, com base nas leis trabalhistas. A reação da categoria foi estridente e imediata. O chororô afeta a credibilidade de uma classe bem remunerada que estuda em princípio para defender direitos iguais.

A carta aberta dos juízes é comovente. Eles defendem seus 60 dias de férias por motivo nobre. Trabalham demais e sob pressão, não recebem por hora extra, levam “processos complexos” para casa nos fins de semana. Professores, médicos, motoristas, todos deveriam se inspirar no direito ao ócio dos meritíssimos.

Os juízes explicam que, livres das audiências, trabalham durante as férias. E, por isso, precisam dos 60 dias. Para resolver a lerdeza da Justiça, talvez devêssemos ampliar ainda mais as férias dos juízes. Os processos não se acumulariam tanto, sem solução. Noventa dias de férias anuais seriam suficientes para tirar o atraso?

Não é apenas em nome da eficiência que a Associação dos Magistrados do Brasil se amotinou. Os juízes afirmam que férias dobradas reduzem a aposentadoria por invalidez ou morte prematura. Esse argumento parece piada de humor negro com os demais trabalhadores. E a comédia não para aí. O senador petista Eduardo Suplicy criticou o privilégio dos juízes e promotores: “Há tantas outras profissões que exigem extraordinária dedicação e nem por isso têm férias maiores que o normal”. Suplicy esqueceu que ele e seus companheiros no Congresso têm direito a 55 dias de descanso remunerado por ano.

Eles querem manter o privilégio das férias mais longas. Onde vai parar a guerra às castas no Brasil?
O professor da PUC do Rio Luiz Werneck Vianna, autor do livro Corpo e alma da magistratura brasileira, defende as longas férias dos juízes. “É uma profissão estressante. Isso é coisa de classe média ressentida”, diz ele. O presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, discorda: “ (A regalia) fere a igualdade que deve existir entre os cidadãos. A Justiça brasileira é morosa também pelo excesso de férias, recesso e feriados”. A sociedade já não idealiza o magistrado, afirma o professor de história do Direito da FGV de São Paulo, José Reinaldo de Lima Lopes: “Está cada vez mais forte a mentalidade de que o juiz é um prestador de serviço como outro funcionário”. Foi-se o tempo em que o juiz era indicado pelo imperador ou pelo ministro da Justiça. Há concursos públicos.

Em abril deste ano, a polêmica foi outra. Tentou-se em vão exigir dos tribunais o expediente integral, das 9 horas às 18 horas. Não adiantou o presidente da OAB brigar pela igualdade: “A toga é apenas uma indumentária, e não um escudo para justificar a diferenciação entre os trabalhadores”. Um dos argumentos dos juízes foi o calor excessivo no fim da tarde. O horário dos tribunais em alguns Estados vai das 9 horas às 14 horas. É por isso que precisam de tantas férias para trabalhar. A realidade não cabe num expediente assim.

Onde vai parar a guerra às castas no Brasil? Dilma começou a faxina ética no governo e no Congresso – e isso rende votos. Não importa se as razões da presidente são altruístas ou estratégicas. Alguém começa a peitar os mercenários da política. Mesmo que nenhum ex-ministro mensaleiro devolva o dinheiro, Dilma pode dar uma de Peluso e questionar por que deputados e senadores trabalham dois dias por semana, discutem só o que importa a eles, vendem a consciência em troca de benefícios regionais ou pessoais, gastam as verbas extras sem prestar contas e se esbaldam em recessos com passagens aéreas financiadas por nós. Vivem todos vidas superlativas, alguns com ficha suja. Sem a menor culpa.

Estênio Negreiros
Fortaleza,CE

"As leis são como as teias de aranha; os pequenos insetos prendem-se nelas, e os grandes rasgam-nas sem custo”. (Anacaris, sábio grego, da Antiguidade)

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