segunda-feira, 11 de julho de 2011

Carlos Newton
O colunista Ibrahim Sued vivia repetindo que “em sociedade tudo se sabe”. É verdade. De uma maneira ou outra, as informações acabam surgindo e circulando. Agora, com a revolução da internet, a velocidade da notícia passou a ser realmente meteórica, em tempo real, costuma-se dizer.
Os jornalistas brasileiros ainda mantêm um certo pudor em abordar a privacidade dos governantes, especialmente a vida amorosa. Nesse ponto, a imprensa brasileira é muito mais civilizada do que a inglesa 


ou a norte-americana, por exemplo, onde os tablóides denigrem qualquer um, com total liberalidade.
Mas nossos jornalistas sempre dão um “jeitinho brasileiro” de fazer revelações picantes, mesmo pisando em ovos e em linguagem mais ou menos cifrada, mas que acaba sendo entendida, pois o velho ditado nos ensina que, para quem sabe ler, um pingo já é letra.
No dia 27 de junho, por exemplo, o colunista Ricardo Noblat, de O Globo, encontrou uma curiosa maneira de dizer que o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, estava se separando da primeira-dama Adriana Ancelmo.
No violentíssimo artigo que publicou, sob o título “Diz aí, Cabral!”, Noblat deu a seguinte informação: “Sou do tempo em que os políticos escondiam amantes, tesoureiros de campanha e empresários do peito. Amantes ainda são mantidas à sombra – embora algumas delas, de um tempo para cá, tenham protagonizado barulhentos escândalos. Outras morrem sem abrir o bico”.
Comentamos aqui no blog que, com invulgar habilidade, Noblat contou tudo, sem dizer nada, revelando com clareza que a morte de Fernanda Kfuri era mais um motivo para o desespero do governador e para a insistência em “amarrar” com o amigo Eike Batista a história do empréstimo do avião, mentindo sobre a hora em chegou a Porto Seguro etc. e tal.
Agora, no sábado, outro destacado colunista de O Globo, Jorge Bastos Moreno, bem-informadíssimo sobre os bastidores políticos de Brasília, publicou uma nota, também em linguagem mais ou menos cifrada, a respeito do misterioso sumiço de Dilma Rousseff, durante cinco horas, no Rio de Janeiro, na semana passada, sob o título “O desaparecimento da presidente Dilma”.
Então, vamos conferir o texto publicado por Jorge Bastos Moreno, em sua coluna política na página 3 de O Globo:
“O amor verdadeiro é o maior antídoto contra intriga. Onde existe amor, não há desconfiança.
Na última quarta-feira, depois de uma visita oficial ao Rio, a presidente Dilma simplesmente desapareceu. Avisou aos ministros da sua comitiva, já dentro da base aérea do Galeão:
“Me esperem aqui. Vou ali e volto já”.
Dilma só reapareceu para o embarque cinco horas depois.
Perguntem-me se, na volta, alguém teve a coragem de perguntar o que ela esteve fazendo nesse tempo todo.
Durante cinco horas, Dilma esteve reunida, em algum lugar da cidade, com Lula.
Vejam que gracinha: Lula estava na base aérea de São Paulo, onde teria uma conversa com a presidente. Quando soube que Dilma se atrasara na cerimônia do Rio, resolveu esperá-la na base aérea do Rio e, assim, evitar seu deslocamento.
- Presidente da República é Dilma. Eu, que não sou mais nada, é que tenho que ir ao encontro dela – ponderou Lula ao cerimonial do Palácio.
Mesmo com uma baita crise sobre as costas, Dilma voltou a Brasília tão feliz, mas tão feliz, que até parecia ter visto um passarinho azul.
E viu!”
Esta surpreendente nota foi publicada no sábado. Note-se que Moreno foi muito mais contundente do que Noblat, cuja afirmação até passou despercebida para muita gente que ainda não tinha recebido nada pela internet, que àquela altura já começava a ficar infestada de mensagens circulando sobre Fernanda Kfuri e Cabral.
Moreno foi direto ao ponto. Começa a nota falando que “o amor verdadeiro é o maior antídoto contra a intriga” e  dizendo que “onde existe amor, não há desconfiança”. Só faltou dizer que “o amor é lindo”. Depois, fala sobre longa duração do encontro secreto entre Lula e Dilma, e termina com uma observação picante sobre a presidente, dizendo que, “mesmo com uma baita crise sobre as costas, Dilma voltou a Brasília tão feliz, mas tão feliz, que até parecia ter visto um passarinho azul. E viu!”
Essa lembrança do passarinho azul, inclusive, é muito original, nunca ninguém ouvira falar disso. Quem chegou mais próximo foi Collor, na Presidência da República, quando disse “ter nascido com aquilo roxo”. De certa forma, de roxo para azul, não fica tão destoante assim.
Durante todo o sábado, aguardamos que saísse algum desmentido à nota de Moreno. O Planalto podia dizer que a presidente Dilma fora visitar uma velha amiga guerrilheira, que está doente, algo assim. Mas nada. Então esperamos passar 24 horas e fomos conferir na edição de domingo de O Globo, para ver se o Planalto ou o próprio Lula tinham se manifestado a respeito. Ainda nada.
Então, será que estou maliciando demais as coisas? Será que nenhuma outra pessoa entendeu a mensagem de Jorge Bastos Moreno da mesma forma do que eu? É possível acreditar que seja apenas “uma brincadeira” do jornalista?
Mas não se brinca com esse tipo de coisas. E os editores do jornal não deixariam ser publicada “uma brincadeira” dessa gravidade. Então, para que possamos realmente saber a quantas anda este país, por favor, que alguém esclareça essa situação, se puder.
 


Estênio Negreiros
Fortaleza,CE

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