A caixa preta das igrejas
Silvio Santos bateu o martelo e disse que não vende mais as madrugadas do SBT para pregadores religiosos, mesmo que paguem milhões. Bispos e pastores estavam de olho naquele horário e ofereceram mundos e fundos para conquistá-lo. As ofertas partiram de todos, desde o bispão Macedo, em sua louca fixação para derrubar a Globo, até Romildo Ribeiro Soares, mais conhecido por RR Soares, cunhado de Macedo, que já tem sua TV mas é incansável na busca por mais espaços em outras redes. Também entrou na disputa um tal Malafaia, aquele que garantiu que iria arrecadar alguns bilhões dos fiéis para ter sua própria TV e deu com os burros n`água. Silvio, bom camelô, o homem que conseguiu dar a volta até na CEF, passando-lhe o mico preto do banco Pan-Americano antes que ele explodisse, deve ter pensado: “péra lá, se esses caras querem tanto esse espaço é porque algum faturamento eles vão ter lá na frente”. Não sei se ele pensou exatamente assim ou simplesmente decidiu preservar sua TV da catequese massacrante dos nossos respeitados bispos, pastores e apóstolos, mas o fato é que decidiu encerrar as negociações. Penso que é preciso algum tipo de fiscalização para que todos saibam o que está por trás dessa dominação evangélica nas TVs brasileiras. De onde vem essa dinheirama toda? Vem de dízimos e do valor obtido com doações, mesmo que envolvam imóveis, veículos e doações, sobre os quais não incide imposto de renda. Ao pé da letra, significa dizer que todos os contribuintes brasileiros estão trabalhando em favor da construção desses impérios, não apenas os fiéis das igrejas. Essa é uma caixa preta que precisa ser aberta e convenientemente explicada. Sobretudo a Record, cujos diretores estavam na posse de Dilma desmanchando-se em salamaleques com a presidente, merece ser olhada com cuidado. Algo está errado ali. Lemos nos jornais que a rede do bispo desembolsou 38 milhões de reais para tirar José Datena, da Band, onde dava religiosos 6 pontos de audiência ou menos. Estreou na Record com 12 pontos. Uma maravilha, pensou a bisparada. Mas foi só a ilusão do primeiro dia, a chamada audiência de curiosidade. Como ele não apresentou nada de novo, uma semana depois ele estacionou nos sete a oito pontos. Muito pouco para tão pesado investimento. É até aceitável que a empresa contrate e pague salários milionários a quem ela queira, quebrando a cara ou não, o que não aceitável é que a massa trabalhadora de TV seja punida com medidas radicais de economia para ter dinheiro no fim do mês para pagar às estrelas. As colunas de TV informam que a emissora do bispo cortou 50% dos salários do pessoal de produção, aqueles que tocam a TV por trás das cameras. Assim, um produtor que ganhava 5 mil reais passou para 2.500 e um auxiliar de produção caiu de 2.500 para 1.300 por mês. Isso da forma mais radical possível, do tipo pegar ou largar. Ainda mais ridícula foi a informação de que o próprio presidente da Record, o decorativo Alexandre Raposo, empenhado em reduzir as despesas da emissora, encarregou-se pessoalmente em sair apagando as luzes e desligando aparelhos de ar condicionado. Todas essas medidas de economia foram tomadas após a contratação do Datena. Ora, uma emissora que paga mensalmente 3 milhões ao Gugu, um milhão ao Datena, 1 milhão ao Justus – que voltou para a Record depois de fracassar no SBT -, não tem o direito de economizar em cima daqueles que realmente colocam a emissora para funcionar. Alguma coisa está errada em sua administração. São jornalistas, repórteres, produtores, cinegrafistas, operadores de câmera, enfim alguns milhares de funcionários que fazem a máquina andar e que não mereciam essa perda repentina em seus salários, já normalmente aviltados. Devo dizer que não tenho nada contra os profissionais que são contratados a peso de ouro, meu protesto é contra a política de sacrifício de muitos em benefício de poucos. Como a Record é administrada por religiosos, teoricamente todos homens de Deus, fica aqui um apelo para que façam um exame de consciência em suas orações diárias, antes de dormir: corrijam a iniquidade cometida com aqueles que não têm voz nem mídia a seu favor e querem apenas um salário que lhes permita viver com dignidade.=============
=========
A AGONIA DO NEOLIBERALISMO
Por Carlos Chagas Vale, por um dia, começar além da política nacional, arriscando um mergulho lá fora. O que continua a acontecer na Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e até na França, onde multidões de jovens estão indo para as ruas, enfrentando a polícia e depredando tudo o que encontram pela frente? Tornam difícil a vida do cidadão comum, não só em Atenas, Lisboa, Madri, Dublin e Paris, mas em muitas cidades desses países. Por que? É preciso notar que o protesto vem das massas, começando pelas massas excluídas, de desempregados, de negros, árabes, turcos e demais minorias que buscaram na Europa a saída para a fome, a miséria e a doença onde viviam, mas frustraram-se, cada vez mais segregados, humilhados e abandonados. Exatamente como em seus países de origem. Mas a onda de inconformismo atinge com igual intensidade jovens da classe média. Não dá mais para dizer que essa monumental revolta é outra solerte manobra do comunismo ateu e malvado. O comunismo acabou. Saiu pelo ralo. A causa do que vai ocorrendo repousa precisamente no extremo oposto: trata-se do resultado do neoliberalismo. Da consequência de um pérfido modelo econômico e político que privilegia as elites e os ricos, países e pessoas, relegando os demais ao desespero e à barbárie. Porque sempre que se registra uma crise econômica nas nações neoliberais, a receita é a mesma, seja na França ou na Grécia, em Portugal, na Irlanda ou na Espanha: medidas de contenção anunciadas para reduzir salários, cortar gastos públicos, demitir nas repartições e nas fábricas, aumentar impostos e taxas. Fica evidente não se poder concordar com a violência. Jamais justificá-la. Mas explicá-la, é possível. Povos de nações e até de continentes largados ao embuste da livre concorrência, explorados pelos mais fortes, tiveram como primeira opção emigrar para os países ricos. Encontrar emprego, trabalho ou meio de sobrevivência. Invadiram a Europa como invadem os Estados Unidos, onde o número de latino-americanos cresce a ponto de os candidatos a postos eletivos obrigarem-se a falar espanhol, sob pena de derrota nas urnas. O diabo é que o mal antes restrito aos imigrantes hoje atinge os naturais de todas as regiões. Preparem-se os neoliberais. Os protestos não demoram a atingir outras nações ricas. Depois, chegarão aos ricos das nações pobres. O que fica impossível é empurrar por mais tempo com a barriga a divisão do planeta entre inferno e paraíso, entre cidadãos de primeira e de segunda classe. Segunda? Última classe, diria o bom senso. Como refrear a multidão de jovens sem esperança, também de homens feitos e até de idosos, relegados à situação de trogloditas em pleno século XXI? Estabelecendo a ditadura, corolário mais do que certo do neoliberalismo em agonia? Não vai dar, à medida em que a miséria se multiplica e a riqueza se acumula. Explodirá tudo. Fica difícil não trazer esse raciocínio para o Brasil. Hoje, 40 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com a metade desse obsceno salário mínimo que querem elevar para 540 reais. Os bancos lucram bilhões a cada trimestre, enquanto cai o poder aquisitivo dos salários. Isso para quem consegue mantê-los, porque, apesar da propaganda oficial, o desemprego continua presente. São 15 milhões de desempregados em todo o país, ou seja, gente que já trabalhou com dignidade e hoje vive de biscates, ou, no reverso da medalha, jovens que todos os anos gostariam de entrar no mercado sem nunca ter trabalhado. Alguns ingênuos imaginam que o bolsa-família e sucedâneos resolveram a questão, mas o assistencialismo só faz aumentar as diferenças de classe. É crueldade afirmar que a livre competição resolverá tudo, que um determinado cidadão era pobre e agora ficou rico. São exemplos da exceção, jamais justificando a regra de que, para cada um que obtém sucesso, milhões continuam na miséria. Seria bom o governo Dilma olhar para fora. O rastilho pegou e não serão as polícias que vão apagá-lo. Ainda que consigam num dia, no outro reacenderão maiores e mais fortes os protestos. Na Europa, nos Estados Unidos e especialmente entre nós. A globalização tem, pelo menos, esse mérito: informa em tempo real ao mundo que a saída deixada às massas encontra-se na rebelião. Os que nada tem a perder já eram maioria, só que agora estão adquirindo consciência, não só de suas perdas, mas da capacidade de recuperá-las através do grito de "basta", "chega", "não dá mais para continuar". Não devemos descrer da possibilidade de reconstrução. O passado não está aí para que o neguemos, senão para que o integremos. O passado é o nosso maior tesouro, na medida em que não nos dirá o que fazer, mas precisamente o contrário. O passado nos dirá sempre o que evitar. Evitar, por exemplo, salvadores da pátria que de tempos em tempos aparecem como detentores das verdades absolutas, donos de todas a soluções e proprietários de todas as promessas============
Hora do recreio: Papa Lula 51
Habemus Papa! O Vaticano abriu as portas hoje para a cerimônia de sagração do Papa Lula 51, o primeiro Pontífice reserva da Igreja. O brasileiro será o consultor de Bento 16 para questões relativas às Escrituras, Encíclicas, excomunhões, santificações e beatificações. É o ápice da carreira do conhecido honoris causa mundial, conselheiro da primeira-ministra alemã Angela Merkel e amigo íntimo de Barack Obama, que o apelidou de "o cara". Sua primeira missão deverá ser convencer o Papa titular a extinguir um importante dogma cristão: os pecados veniais e mortais, especialmente os da soberba, preguiça, embriaguês e roubo. Estênio Negreiros
Fortaleza,CE "As leis são como as teias de aranha; os pequenos insetos prendem-se nelas, e os grandes rasgam-nas sem custo”. (Anacaris, sábio grego, da Antiguidade)
domingo, 24 de julho de 2011
PÉROLAS DO ESTÊNIO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário