terça-feira, 5 de julho de 2011

Dilma começou bem no caso do Ministério dos Transportes, até que de repente resolveu perdoar o ministro. Coitado, ele não sabia de nada e agora terá de investigar os amigos.
Carlos Newton
É triste, mas temos de retirar o elogio feito ontem à presidente Dilma Rousseff, no caso de sua pronta intervenção para demitir a quadrilha que tomou conta do Ministério dos Transportes. Como é que a

chefe do governo de repente tem uma recaída e manda até divulgar uma nota na qual manifesta absoluta confiança no ministro Alfredo Nascimento, que, se tivesse um mínimo de hombridade, já teria pedido demissão?
De acordo com a assessoria de imprensa da Presidência, caberá ao próprio Nascimento promover a investigação de denúncias de que a cúpula do Ministério sob seu comando promovia sobrepreço nas licitações e cobraria propina entre 4% e 5%, o que garantia às empresas aditamentos dos contratos.
“O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento”, diz o texto lido por uma assessora. “O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes”, conclui.
Traduzindo: resolveram mandar o chefe da quadrilha investigar os crimes, que desta vez não foram revelados pela imprensa, mas pelo senador Mario Couto (PSDB-PA). Como registrou aqui no blog o comentarista Antonio Santos Aquino: “Da tribuna, dia sim dia não, o senador Mário Couto diz: “Pagot, tu és ladrão, estás roubando há muitos anos. Quem te segura, Pagot? Não esquece que eu estou te chamando de ladrão. E agora?”
A saudável novidade é que desta vez a própria Presidência da República resolveu ouvir a oposição, constatou que as denúncias de Mário Couto eram verdadeiras e defenestrou a quadrilha quase inteira. Pena que esqueceu de demitir o chefe, o próprio ministro, que também está necessitando de um belo Código de Conduta.
É claro que já circulavam muitos rumores sobre as irregularidades no Ministério, especialmente sobre a presença contínua do deputado Waldemar Costa Neto no gabinete do ministro Alfredo Nascimento, pois havia até uma sala especial reservada para ele, vejam a que ponto chegamos.
Aqui no blog da Tribuna, por exemplo, um dos comentaristas vivia fazendo brincadeiras com o sobrenome de Luiz Antonio Pagot, que era diretor geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). O comentarista (não recordo o nome) perguntava sempre: “Quem pagot?” ou “Já pagot?”
No final de semana, Dilma afastou o chefe de gabinete de Nascimento, Luiz Tito Bonvini, o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, e o presidente da estatal Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, muito ligado ao deputado federal Waldemar Costa Neto (PR-SP), que em 2005 renunciou ao mandato para escapar da cassação por causa de envolvimento no mensalão, configurando um caso de reincidência específica em corrupção.
Pois é, a presidente estava se saindo tão bem nesse primeiro episódio de graves irregularidades em seu governo (Palocci não conta, pois vinha corrompido desde o governo Lula), e não dá para entender essa recuada e a demonstração de confiança num ministro mais do que sujo.
Aqui no blog, Helio Fernandes cansou de escrever sobre Alfredo Nascimento, explicando que ele só continuava ministro para que seu suplente (João Pedro, do PT) seguisse exercendo o mandato no Senado. João Pedro é um sindicalista amazonense, amigo particular de Lula, o que explica quase tudo.
O quadro é complexo, mas é muito duro supor que Dilma Rousseff esteja mantendo Nascimento apenas para agradar a Lula, com a preservação do mandato de João Pedro no Senado. Seria uma baixeza inominável, capaz de manchar de forma indelével a biografia da atual presidente.
É preferível acreditar que seja apenas uma jogada de efeito, para distrair a arquibancada, com tudo acertado nos bastidores. A presidente faz a nota de apoio ao ministro, pede que ele próprio conduza as investigações, seus colegas e correligionários então sentem a alma lavada, mas logo em seguida o próprio Alfredo Nascimento repentinamente resolve pedir demissão, por se sentir desconfortável ao ter de investigar amigos tão íntimos. É possível que isso aconteça, seria uma jogada inteligente, mas o senador João Pedro iria para o espaço, perdão, perderia a cadeira no Senado.

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