segunda-feira, 9 de maio de 2011

VIDA COTIDIANA DO SOCIALISMO CUBANO

Enviado por Ana Carolina Boccardo Alves -
Sempre fui fã de fazer compras no supermercado. Adorava passear pelas prateleiras, ver os produtos e, entre eles, escolher o que me interessava.
Mas aqui em Havana a rotina que tanto me agradava passou a ser uma obrigação penosa.
Para fazer compras, não posso levar bolsa, pois não permitem entrar com nada no supermercado. Vou com a carteira na mão e tenho que levar sacolas para carregar os produtos, pois elas estão sempre em falta. Aprendi depois de algumas vezes transportando alimentos desajeitadamente nos braços até em casa (e depois quatro andares acima).
Para pagar, tudo é dividido: a parte de limpeza só pode ser paga no caixa correspondente, laticínios idem, utilidades, bebidas e assim sucessivamente.
O resultado disso é ter que pagar várias vezes em locais distintos e guardar todas as notas fiscais correspondentes, pois na saída você é revistado e o guarda confere os itens comprados.
Existe também um outro tipo de mercado em que você tem que pedir e pagar os itens que deseja para uma balconista desatenciosa, pois tudo fica do lado de dentro das vitrines, como se fosse uma farmácia. Sinceramente, prefiro ser revistada.
Quanto aos produtos, cada dia falta algo diferente e comprar um item uma vez simplesmente não é garantia de que irá encontrá-lo outras vezes.
Isso sem contar aqueles que você não encontra de jeito nenhum.
Só para deixar claro, estou falando dos estabelecimentos onde se paga em CUC (dinheiro que inicialmente deveria ser para os turistas mas que acabou virando a segunda moeda nacional) e que na verdade são os únicos que oferecem uma mínima variedade de produtos.
Já os legumes, verduras e frutas só são encontrados nos mercados agros e o pagamento é em pesos cubanos, que vale 25 vezes menos que o CUC.
Ali, as coisas são sazonais e sem qualquer constância aparecem nas bancas dos vendedores.
Não estou falando de alguns produtos, mas da maioria absoluta. Com exceção de tomate, pimentão, cebola e alho, todos os demais, se forem encontrados, dependem da época do ano, clima e sorte.
Muitas vezes, os feirantes guardam o melhor que chega para os clientes habituais e o que sobra é esgotado em poucos minutos de fila.
Finalizando as compras do dia, a padaria. Fila quilométrica. Quando chega a minha vez, compro pão das mãos sempre sem luvas do funcionário da padaria.
Não sei há quantos dias a baguete estava lá, mas posso garantir que não é fresca.
Caminho de volta para casa carregando as sacolas, produto da minha atual condição de dona-de-casa.
E esperando, sinceramente, encontrar queijo da próxima vez.

Ana Carolina é jornalista, couchsurfer e autora do blog "Eu moro onde você tira férias"

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