sábado, 16 de outubro de 2010

LEITOR DA CARTA CAPITAL COMENTA MATÉRIA SOBRE PRIVATIZAÇÕES

          Frase comum de ouvir-se: "O brasileiro tem memória curta". Nos anos 90 poderíamos acrescentar e "grana também", visto que àquela época a maioria dos brasileiros sequer conhecia um telefone, adquirí-lo então, um luxo.
          Inobstante a prevalência das discussões de cunho filosófico que não levam a nada, o tema privatizações tem sido bastante explorado pela candidatura Dilma, sem levar em conta que o seu governo nada fez para reverter esta situação, pelo contrário, deu continuidade, frustrando grupos do partido que, insatisfeitos, foram para outras siglas.
          Para decepção dos que dizem que só leio noticiosos com tendência neoliberal, transcrevo abaixo comentário de um leitor da revista Carta Capital sobre o assunto. Veja.

• • Felipe de Oliveira disse:
15 de outubro de 2010 às 23:53
São tantas as sandices desse texto (da carta capital) que fica até difícil concatenar as ideias e escrever uma resposta a altura. O ranço desenvolvimentista do texto é assombroso.
O gasto com telecomunicações no País praticamente triplicou entre 1998 e 2010? Primeiro, aconselho ao articulista apresentar dados para comprovar essa informação. E, ainda que essa informação seja realmente factível, que tal se analisarmos a questão sob o ponto uma relação custo-benefício? Vejamos.
A oferta de linhas telefônicas era feita somente quando havia planos de expansão das operadoras estaduais. Em alguns casos, o plano era anunciado e havia um período de inscrição para sorteio das pessoas que iriam adquirir a linha. Em outros casos, as operadoras anunciavam a venda de um número específico de linhas a partir de uma determinada data, havendo a venda de linhas à população por ordem de chegada – o que levava à formação de filas com quatro dias de antecedência. Uma vez feita a venda, dava-se início ao pagamento (que, no começo do Plano Real, girava em torno de US$ 2.500,00) em parcelas que variavam de 24 a 36 vezes. A instalação da linha acontecia entre o 2º e o 3º ano subsequente ao início do pagamento – equivalendo à capitalização dos pagamentos para a instalação das novas centrais telefônicas. Algo bastante recorrente era a postergação do prazo de instalação, podendo chegar a mais de 4 anos, em alguns casos. Outro fator que merece atenção é que o acesso a aparelhos telefônicos era profundamente restrito: simplesmente não havia lojas que os vendessem. Os aparelhos eram fornecidos pelas operadoras quando a linha era concedida. Qualquer problema no aparelho exigia a intervenção de um técnico da operadora telefônica, e, muitas vezes, o prazo para resolução do problema (ou troca do aparelho) chegava a 30 dias.
Um caso bastante emblemático dessa situação foi quando, em 1996, a Telebrasília colocou à venda 25 mil linhas de telefonia móvel através de um serviço de televendas. Isso provocou congestionamento na rede durante dois dias seguidos, o que originou uma série de problemas no sistema. À época, era oferecido um aparelho Motorola que pesava módicos 320g e utilizava uma bateria de 4 horas. O Motorola Tijolão era vendido a cerca de US$ 400,00. Cerca de 2 anos depois, a primeira concorrente da Telebrasília – chamada Americell – começou a vender um aparelho da Nokia que tinha metade do peso do Tijolão e uma bateria que durava o dobro. Seu preço era de cerca de US$ 80,00. Mesmo com essa diversificação, a Telebrasília manteve o uso do Motorola Tijolão.
O que temos hoje? O tempo médio de espera para obtenção de uma linha telefônica é de 24 horas, sem sorteio, sem filas que duram dias, e sem o pagamento de exorbitantes US$ 2.500,00 – o que, hoje, daria em torno de R$ 4.200,00. Aparelhos telefônicos podem ser adquiridos em qualquer loja, e os mais baratos possuem preço bastante acessível (R$ 30,00). Com relação à telefonia celular, o processo é ainda mais rápido: comprando um modelo básico (um Nokia 1208, por exemplo, que custa em torno de R$ 100,00) e um chip pré-pago (por exemplo, da Vivo, que sai a R$ 10,00, mais R$ 12,00 para inserção de créditos de ativação de linha), você adquire, de imediato, uma linha telefônica móvel a R$ 122,00 (ou US$ 75,00). Tendo em vista esses valores, é possível dizer que, em relação ao mercado internacional, os valores praticados no Brasil estão bem acima da média. Um dos motivos é, claro, a pressão fiscal no País, que gira em torno de 40% do PIB.
É inegável que o sistema de telecomunicações no Brasil avançou exponencialmente a partir da privatização das operadoras estatais de telefonia. O desenvolvimento das telecomunicações no País não atingiu apenas o consumidor final de telefonia, mas auxiliou no fortalecimento e abertura de novas empresas, o que, indibutavelmente, contribuiu para a geração de riqueza para o Brasil e de renda para os trabalhadores.
O que me parece mais assombroso nessa história é como uma revista como a Carta Capital, que é tida como uma das mais conceituadas do País, permita-se a loucura de defender um ponto de vista tão retrógrado quanto o apresentado pelo articulista. Chego até mesmo a duvidar se meu comentário será publicado, quiçá lido, pelos moderadores. Que a revista opte por uma linha ideológica de atuação, vá lá, mas recorrer a distorções graves de fatos para esse fim é, no mínimo, irresponsabilidade. Na minha opinião, trata-se de um tanto mais. Trata-se de desonestidade intelectual e jornalística. Lamentável.



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