Quem assistiu a entrevista de José Dirceu ontem (04/07), no SBT, deparou-se com a típica entrevista “chapa branca”. O sentimento de um papo trocado entre velhos amigos esteve no ar a cada instante e ficou evidente quando a entrevistadora perguntou a José Dirceu os motivos pelos quais ele apoiava Cuba se dizia abominar ditaduras. O entrevistado desconversou e, meio “de passagem”, usou o mesmo artifício dos Irmãos Castro – culpar o embargo americano – e “ficou por isso mesmo”.
Mas, o pior de tudo, foi perceber como essa gente vive num mundo completamente dissociado da realidade e totalmente separado do que se vê a cada dia nos flagrantes da imprensa, dos parceiros de falcatruas e dos empresários enganados ou cansados de serem extorquidos. Contrariando todas as fortunas encontradas nas cuecas, as malas que trocaram de mão e as denúncias provadas pelas cassações e pelos processos julgados no TSE e no STF; Dirceu teima em dizer que o PT é ético e não possui nenhum integrante envolvido em maracutaias. Ora! Para esse pessoal tudo não passa de uma fantasia e de uma enorme conspiração que envolve a imprensa, os tribunais e até tecnologia alienígena – pois, as imagens que comprovaram todas as mamatas foram criadas “a partir do nada”, segundo o nosso ex-ministro.
Outro ponto interessante da entrevista foi à afirmação de Dirceu que é “um homem pobre”. Não só ele. Mas, todos os grandes caciques do PT são “homens pobres” que não enriquecerem no decorrer dos oito anos de poder do PT. A entrevistadora deveria ter remetido Dirceu ao filho do Lula. Empresário medíocre e quase falido no início do governo do pai e, após oito anos, é reconhecido como um dos homens mais ricos do Brasil; estando envolvido em inúmeras denúncias de supostas irregularidades em transações com a OI e a Telemar. O próprio Lula, que não tem atividade laboral há vários anos e hoje tem um patrimônio invejável e várias aposentadorias polpudas para contar. Dirceu ainda disse que “não ganha muito”; ganha apenas o suficiente para pagar suas despesas pessoais, seus advogados e fazer política. A entrevistadora aceitou “numa boa” sem rebater que para pagar tudo isso – sem citar que os seus advogados no caso do mensalão estão entre os mais caros do país – ele não pode ser um homem pobre.
Mas, a pior fantasia de todas, foi em relação ao próprio episódio do mensalão. Ao afirmar categoricamente que “ficou provada” a não existência de um mensalão e sua absolvição, por isso, era “líquida e certa” no STF. A entrevistadora, mais uma vez, deixou de perguntar a Dirceu os motivos que levaram o ministro Joaquim Barbosa a citá-lo, aceitando a denúncia contra ele, dizendo: “Admito que há realmente uma prova mínima de que ele era o mentor e o comandante supremo da trama, em que outros personagens faziam o papel de meros auxiliares. E isso, a meu ver, merece ser investigado”.
Agora, absolvido ele pode ser. Basta lembrar que Collor também foi absolvido por falta de provas no processo referente à época de sua deposição. O mesmo procedimento que foi feito para reintroduzí-lo na vida política nacional, com o beneplácito do PT, pode muito bem ser feito agora para permitir a “limpeza” de José Dirceu. O processo contra Collor foi produzido “sob medida” para não gerar provas e permitir a absolvição pelo Supremo. Da mesma forma, o processo contra Dirceu pode ser submetido ao STF nas mesmas bases “criativas”. Mas, e as provas que todos vimos? E os dedos apontados para ele após terem sido apanhados na trama do mensalão? As malas, as cuecas, as dancinhas, etc… tudo vai sumir na poeira?
Parece que os jornalistas têm medo de “tocar na ferida” e de fazer perguntas que o povo precisa ouvir respondidas e debatidas. Parece que, em nome de uma política de “ficar de bem” para não correr o risco de ver cortada a publicidade estatal, a imprensa brasileira torna-se toda sorrisos e abdica de seu dever sagrado de cutucar e de expor as mentiras descaradas e acintosas de qualquer político corrupto que, mesmo contra todas as provas e todos os elementos, deseja vender a imagem de probo e íntegro às custas da realidade.
A verdade mesmo é que assistir a entrevista desse pessoal é como ser transportado para uma outra realidade. É como estar num universo paralelo ou descobrir-se vivendo num outro país.
Ou pior. Parece que, a qualquer momento, o Tattoo aparecerá gritando do alto da torre: “O AVIÃO… O AVIÃO…”
E você leitor, o que pensa disso
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